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RICARDO YOUNG
Negócios, e agora?
Os efeitos da expressiva votação obtida por Marina Silva
ainda serão sentidos e avaliados por um bom tempo depois
das eleições. Creio que se pode
chamar de "onda" porque a
disseminação vai se dando
aos poucos, mas sempre em
sentido progressivo e abarcando cada vez mais setores da sociedade.
De uma coisa estou certo: o
"fenômeno Marina" vai mexer
muito fundo com as empresas,
principalmente aquelas mais
engajadas no movimento brasileiro da responsabilidade social, pois, para os empresários, o desenvolvimento sustentável não é assunto novo.
Desde 2006, ele está na pauta dos negócios, pois foi quando o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da
ONU (IPCC) divulgou seus
dois relatórios sobre as consequências do aquecimento global para a economia e para a
permanência da própria espécie humana no planeta.
2006 também é o ano do Relatório Stern, elaborado pelo economista Nicholas Stern,
sobre os efeitos das alterações
do clima na economia mundial nos próximos 50 anos. Em
quatro anos, o mercado articulou-se e caminhou mais rapidamente que a sociedade e os
governos neste tema, inclusive no Brasil. As empresas brasileiras foram decisivas para o
governo não só apresentar ao Congresso o Programa Nacional de Mudanças do Clima como foram fundamentais para que o país desempenhasse papel fundamental nas negociações da COP-15, em Copenhague, no ano passado.
Este esforço para mudar o paradigma dos negócios não tem sido acompanhado por mobilização semelhante para influenciar os governos a abraçar a causa do desenvolvimento sustentável. Com isso, criou-se um fosso entre a vanguarda da economia e o Estado, fazendo crescer, neste
intervalo, todo tipo de iniciativa oportunista, que se aproveita de uma tendência ainda
não regulamentada para manter ou ampliar privilégios.
Em 3/10, a sociedade brasileira mandou um recado aos
políticos e empresas: o desenvolvimento sustentável não
pode mais ser tratado como tema marginal. Ademais, porque representa também os anseios de justiça, igualdade e ética de significativa parcela de brasileiros.
Em nenhum outro país,
mesmo onde o movimento
verde tem larga tradição, o recado da sociedade foi tão claro
e forte. Por isso o desenvolvimento sustentável será, daqui
para a frente, o fio condutor das mudanças. Terá papel central na agenda política e, nos mundo dos negócios, será questão prioritária de competitividade.
Articular a política e a economia, com ética e integridade, na perspectiva de uma sociedade mais justa e sustentável é o desafio que temos daqui para a frente. Para o bem e
para o mal, o que fizermos será
referência no mundo.
RICARDO YOUNG escreve às segundas-feiras nesta coluna.
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