São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2010

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RICARDO YOUNG

Negócios, e agora?

Os efeitos da expressiva votação obtida por Marina Silva ainda serão sentidos e avaliados por um bom tempo depois das eleições. Creio que se pode chamar de "onda" porque a disseminação vai se dando aos poucos, mas sempre em sentido progressivo e abarcando cada vez mais setores da sociedade.
De uma coisa estou certo: o "fenômeno Marina" vai mexer muito fundo com as empresas, principalmente aquelas mais engajadas no movimento brasileiro da responsabilidade social, pois, para os empresários, o desenvolvimento sustentável não é assunto novo.
Desde 2006, ele está na pauta dos negócios, pois foi quando o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) divulgou seus dois relatórios sobre as consequências do aquecimento global para a economia e para a permanência da própria espécie humana no planeta.
2006 também é o ano do Relatório Stern, elaborado pelo economista Nicholas Stern, sobre os efeitos das alterações do clima na economia mundial nos próximos 50 anos. Em quatro anos, o mercado articulou-se e caminhou mais rapidamente que a sociedade e os governos neste tema, inclusive no Brasil. As empresas brasileiras foram decisivas para o governo não só apresentar ao Congresso o Programa Nacional de Mudanças do Clima como foram fundamentais para que o país desempenhasse papel fundamental nas negociações da COP-15, em Copenhague, no ano passado.
Este esforço para mudar o paradigma dos negócios não tem sido acompanhado por mobilização semelhante para influenciar os governos a abraçar a causa do desenvolvimento sustentável. Com isso, criou-se um fosso entre a vanguarda da economia e o Estado, fazendo crescer, neste intervalo, todo tipo de iniciativa oportunista, que se aproveita de uma tendência ainda não regulamentada para manter ou ampliar privilégios.
Em 3/10, a sociedade brasileira mandou um recado aos políticos e empresas: o desenvolvimento sustentável não pode mais ser tratado como tema marginal. Ademais, porque representa também os anseios de justiça, igualdade e ética de significativa parcela de brasileiros.
Em nenhum outro país, mesmo onde o movimento verde tem larga tradição, o recado da sociedade foi tão claro e forte. Por isso o desenvolvimento sustentável será, daqui para a frente, o fio condutor das mudanças. Terá papel central na agenda política e, nos mundo dos negócios, será questão prioritária de competitividade.
Articular a política e a economia, com ética e integridade, na perspectiva de uma sociedade mais justa e sustentável é o desafio que temos daqui para a frente. Para o bem e para o mal, o que fizermos será referência no mundo.


RICARDO YOUNG escreve às segundas-feiras nesta coluna.


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