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CLÓVIS ROSSI
Boa notícia. Mas falsa
SÃO PAULO - Uma das únicas
boas notícias sobre o Brasil contida
no relatório sobre desenvolvimento humano divulgado pelas Nações
Unidas é a redução da desigualdade.
Pena que seja falsa.
Já tratei desse tema, mas a repetição da falsidade exige voltar ao
teorema que explica a falsidade.
1 - O único estudo que mostra a
queda da desigualdade (a partir de
1995, portanto no governo Fernando Henrique Cardoso) é a Pnad
(Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios), do IBGE.
Os pesquisadores perguntam a
renda da família. Quem vive só de
trabalho ou de outro rendimento fixo diz o que ganha. Quem, além do
salário ou de rendimento fixo, recebe também os proventos advindos
de aplicações financeiras, omite essa parte da renda. Ou por mero esquecimento, portanto de boa-fé, ou
por medo (do fisco, de seqüestro, do
que seja).
2 - Como aumentou a renda dos
mais pobres, a partir dos diferentes
tipos de bolsas, a pesquisa registra
diminuição da desigualdade, por
falsa declaração.
3 - Testemunho de pesquisadores
do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas: "A pesquisa do IBGE
só capta 10% dos rendimentos das
famílias com juros", afirma Marcelo Medeiros. Completa Sergei Soares: "Esses rendimentos são muito
mal medidos pela Pnad".
4 - Os 10% mais ricos do país e
que têm dinheiro aplicado a juros
obtiveram um rendimento médio
financeiro real (acima da inflação)
de 65,8% entre 2001 e 2004 (os dados da ONU referem-se justamente
a 2004). Já os 20% mais pobres que
vivem da renda do trabalho tiveram
um aumento nos ganhos de 19,2%
no mesmo período.
Tudo somado, tem-se que é simplesmente impossível que a desigualdade tenha caído. E, mesmo
computando uma queda que não
houve, a ONU põe o Brasil em um
patético 69º lugar no ranking do desenvolvimento humano.
crossi@uol.com.br
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