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Mais disciplina fiscal
Se não atacar gastos obrigatórios, governo Lula arrisca-se a sacrificar obras e elevar tributos para adaptar-se à crise
NOS ÚLTIMOS anos o
Brasil ampliou suas
defesas contra choques externos. Por
conta disso, a queda abrupta do
real não colocou em xeque as finanças públicas, como era usual.
O governo tem certa margem para ações emergenciais e pontuais
de socorro financeiro -mas não
para aventurar-se na gastança.
Se conseguir atravessar a crise
econômica sem elevar impostos
e sem sacrificar investimentos
em infra-estrutura, terá feito o
que nenhum outro governo conseguiu nas últimas décadas. A
meta, ambiciosa, poderá ser
atingida apenas com mais, nunca
menos, disciplina fiscal.
Infelizmente, o setor público
brasileiro, em especial o Executivo federal, desperdiçou grande
parte do trunfo oferecido por vários anos excepcionais de arrecadação. A despesa com servidores
federais fechará 2008 em R$ 133
bilhões, aumento de 10% acima
da inflação em relação a 2007.
Em franca ascensão, a folha de
pagamentos vai ultrapassar a
despesa com juros da dívida pública (R$ 104 bilhões) para tornar-se o segundo item do gasto
federal, atrás dos benefícios da
Previdência (R$ 202 bilhões).
Salários, juros e Previdência,
juntos, consomem 70% de todos
os gastos da União. O engessamento orçamentário vai mais
longe, pois entre os 30% restantes estão rubricas cujo dispêndio
é garantido por determinação
constitucional. Aumentos já
concedidos a servidores, as recentes elevações nos juros pelo
Banco Central e mecanismos generosos de reajuste do piso previdenciário continuarão a empurrar a fatia de despesas obrigatórias para cima se nada for feito.
Quanto mais enrijecido o Orçamento, maior a probabilidade
de o governo sacrificar seu programa de obras para compensar
uma quebra de arrecadação, comum em tempos de crise. Esse
tem sido o padrão no Brasil, o
que só faz reforçar os efeitos danosos das desacelerações cíclicas
sobre a taxa de investimento
produtivo e, portanto, sobre o
potencial de crescimento e de geração de empregos do país.
O desejo quase religioso de
preservar as obras do PAC, no
governo Lula, não se tem feito
acompanhar de iniciativas fiscais ousadas, capazes de dar concretude à promessa. É preciso
golpear, e já, os três grandes itens
de despesa fixa federal, a fim de
que seu conjunto, no mínimo,
pare de conquistar mais fatias do
Orçamento nos próximos anos.
Abre-se um horizonte em que,
muito provavelmente, o Banco
Central terá oportunidade de diminuir os juros básicos -é preciso aproveitá-la ao máximo e realinhar de vez as elevadas taxas
brasileiras com as praticadas em
países semelhantes. Na Previdência, uma opção óbvia e justa é
desvincular o piso dos benefícios
assistenciais do salário mínimo.
O ritmo de crescimento da folha de pagamentos no funcionalismo público -nos três Poderes
e nas três esferas administrativas- precisa ganhar um limite
legal. Seria um incentivo a mais
para que o governo Lula se distanciasse um pouco dos lobbies
sindicais a fim de encarar os ganhos de eficiência na gestão pública como objetivo sistemático.
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