|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Abençoado por Deus
RIO DE JANEIRO - Uma de nossas glórias, consolo das gentes, é
que as misérias nacionais são relativamente pífias, problemas que a
Justiça e a polícia, em querendo,
podem enfrentar. Volta e meia, um
ufanista retardado constata que somos um país felizardo, porque,
além de nossas borboletas azuis e
de nossas murmurantes cascatas,
não temos vulcões nem terremotos.
Já era. No último fim de semana,
houve aquilo que os jornais antigamente chamavam de "abalo sísmico", e como não poderia deixar de
ser, foi em Minas, onde sempre
acontecem coisas. Não foi nada
apocalíptico, com milhares de mortos e prejuízos gerais que motivam
a piedade da ajuda internacional.
Mesmo assim deixou um morto,
nosso primeiro mártir nesse tipo de
catástrofe natural. Que seja o primeiro e último -temos tantos problemas que podemos dispensar esse tipo de flagelo. De qualquer forma, lá se foi nossa virgindade em
termos de abalos sísmicos. O caminho está aberto, temos movimentos de placas subterrâneas que podem fazer estragos em nosso chão
já castigado por tudo o que botamos
em cima dele.
O jeito é segurar a outra castidade, a dos vulcões. Já li, não sei onde,
que o Pão de Açúcar, aqui perto de
minha casa, é um vulcão extinto.
Não entendo nada do assunto. Mas
que ele parece mesmo com um vulcão aposentado, emérito como um
professor da USP depois de certa
idade, parece.
Não sei o que preferir: a morte
por abalo sísmico ou pela lavra até
agora improvável do Pão de Açúcar.
Alguns amigos enfrentaram tremores de terra. O embaixador e poeta
Alberto da Costa e Silva, na Colômbia, e o só bastante poeta Thiago de
Mello, no Chile. Uma experiência
que julgo dispensável. De vulcão
mesmo, não conheço ninguém que
tenha sido vitimado por um deles.
Espero não ser o primeiro.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Madame anda falando demais Próximo Texto: Marcos Nobre: Chance perdida Índice
|