São Paulo, sábado, 11 de dezembro de 2010

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Crescimento contido

É frustrante que expansão modesta na média de 2009 e 2010 gere pressões inflacionárias e necessidade de aumentar a taxa de juros

O IBGE divulgou anteontem que o PIB cresceu 0,5% no terceiro trimestre na comparação com o anterior. Em relação ao mesmo período de 2009 o aumento foi de 6,7%. Com isso, o crescimento de 2010 deverá ficar próximo a 7,5%. Tal desempenho foi possível porque o PIB caiu 0,6% em 2009. O país não tem condições de seguir crescendo em patamar tão elevado sem gerar fortes desequilíbrios e pressões inflacionárias. Estima-se que o ritmo atual de expansão já esteja próximo de 4,5% ao ano.
Os dados indicam que novamente se verificou desempenho desigual entre os setores da economia. Por um lado, consumo e investimentos continuam crescendo fortemente, impulsionados pelo crédito farto e pelo aumento do emprego. No terceiro trimestre a alta da demanda interna foi quase duas vezes superior à do PIB. Por seu turno, a indústria não acompanha o ritmo. A produção permanece estagnada desde março e a diferença é coberta pelo crescimento das importações.
Apesar do ufanismo das autoridades, que insistem em comparar o Brasil com a China, na média de 2009 e 2010 o crescimento terá sido de 3,4%, o que está longe de ser brilhante. E é frustrante que essa retomada apenas mediana na comparação com outros emergentes venha acompanhada de aumento de preços e risco de um novo ciclo de alta de juros.
Neste ano, o IPCA, que mede a inflação oficial, ficará próximo a 5,8%. As projeções para 2011, por mais imperfeitas que sejam, apontam para 5,5% ou mais.
No contexto atual, com o mercado de trabalho apertado e pressões de custos por todos os lados, basta que os preços das principais commodities, especialmente alimentos e petróleo, permaneçam em alta em 2011 para que o quadro inflacionário se torne ainda mais perigoso. Mais um vez o Brasil é um dos países que menos reduz a inflação durante um período recessivo e um dos primeiros a ter que aumentar a taxa de juros na retomada, por modesta que seja.
Esse comportamento está relacionado ao padrão de crescimento da economia, excessivamente ancorado em consumo e transferências públicas, mas pouco afeito à formação de poupança, à inovação, à produção competitiva e à conquista de mercados externos. Sem que a oferta interna cresça adequadamente, o país estará sempre submetido a pressões inflacionárias e terá dificuldades em sustentar um ritmo acelerado de crescimento de forma contínua.
O novo governo tem a oportunidade redirecionar o crescimento para bases mais sustentáveis. Tem-se insistido neste espaço na necessidade de coordenação. De inicio, o Banco Central precisa ser auxiliado na sua tarefa de controlar a inflação. O país não pode se conformar que a solução seja apenas subir os juros, como sempre. Além de medidas setoriais, como as de controle de crédito anunciadas na semana passada pelo BC, é preciso que o governo faça um esforço convincente com vistas a gerar poupança e redirecionar recursos para investimentos.


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