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Crescimento contido
É frustrante que expansão modesta na média de 2009 e 2010 gere pressões inflacionárias e necessidade de aumentar a taxa de juros
O IBGE divulgou anteontem
que o PIB cresceu 0,5% no terceiro
trimestre na comparação com o
anterior. Em relação ao mesmo
período de 2009 o aumento foi de
6,7%. Com isso, o crescimento de
2010 deverá ficar próximo a 7,5%.
Tal desempenho foi possível porque o PIB caiu 0,6% em 2009. O
país não tem condições de seguir
crescendo em patamar tão elevado sem gerar fortes desequilíbrios
e pressões inflacionárias. Estima-se que o ritmo atual de expansão
já esteja próximo de 4,5% ao ano.
Os dados indicam que novamente se verificou desempenho
desigual entre os setores da economia. Por um lado, consumo e
investimentos continuam crescendo fortemente, impulsionados
pelo crédito farto e pelo aumento
do emprego. No terceiro trimestre
a alta da demanda interna foi quase duas vezes superior à do PIB.
Por seu turno, a indústria não
acompanha o ritmo. A produção
permanece estagnada desde março e a diferença é coberta pelo
crescimento das importações.
Apesar do ufanismo das autoridades, que insistem em comparar
o Brasil com a China, na média de
2009 e 2010 o crescimento terá sido de 3,4%, o que está longe de ser
brilhante. E é frustrante que essa
retomada apenas mediana na
comparação com outros emergentes venha acompanhada de aumento de preços e risco de um novo ciclo de alta de juros.
Neste ano, o IPCA, que mede a
inflação oficial, ficará próximo a
5,8%. As projeções para 2011, por
mais imperfeitas que sejam, apontam para 5,5% ou mais.
No contexto atual, com o mercado de trabalho apertado e pressões de custos por todos os lados,
basta que os preços das principais
commodities, especialmente alimentos e petróleo, permaneçam
em alta em 2011 para que o quadro
inflacionário se torne ainda mais
perigoso. Mais um vez o Brasil é
um dos países que menos reduz a
inflação durante um período recessivo e um dos primeiros a ter
que aumentar a taxa de juros na
retomada, por modesta que seja.
Esse comportamento está relacionado ao padrão de crescimento
da economia, excessivamente ancorado em consumo e transferências públicas, mas pouco afeito à
formação de poupança, à inovação, à produção competitiva e à
conquista de mercados externos.
Sem que a oferta interna cresça
adequadamente, o país estará
sempre submetido a pressões inflacionárias e terá dificuldades em
sustentar um ritmo acelerado de
crescimento de forma contínua.
O novo governo tem a oportunidade redirecionar o crescimento
para bases mais sustentáveis.
Tem-se insistido neste espaço na
necessidade de coordenação. De
inicio, o Banco Central precisa ser
auxiliado na sua tarefa de controlar a inflação. O país não pode se
conformar que a solução seja apenas subir os juros, como sempre.
Além de medidas setoriais, como
as de controle de crédito anunciadas na semana passada pelo BC, é
preciso que o governo faça um esforço convincente com vistas a gerar poupança e redirecionar recursos para investimentos.
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