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Matar ou morrer
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Fuzilar um presidente da República, como sugeriu um deputado há pouco, pode ser profilático,
mas não resolve o problema. Aparece
outro presidente da República, que
pode até ser pior do que o fuzilado.
Inseparável do processo humano, a
violência é recorrente, não melhora a
sociedade, pelo contrário, tende a piorá-la. Mas nunca deixa de ser a alternativa a que se recorre quando as coisas engrossam.
As guerras aí estão para provar que
ela é necessária para impedir o domínio de uma violência contrária. No limite: é matar ou morrer -como nos
duelos finais dos faroestes de John
Ford.
Durante o regime militar, era muito
lembrada uma frase de não sei quem,
segundo a qual de vez em quando devia-se matar um almirante para dar
um susto nos demais. Lembro também o Otto Maria Carpeaux, que desejava ser chefe de polícia por apenas
15 minutos.
Nunca lhe perguntei o que faria nesses 15 minutos. Desconfio que não era
boa coisa. Intelectual de grandes cóleras, Carpeaux não era muito diferente
de um herói fordiano, tipo John Wayne, só que do outro lado.
Tomás de Aquino distinguiu, na violência, aquilo que chamou de ""ira
bonna". A raiva virtuosa, que queima
o herege para exemplo dos demais. O
que nunca impediu o aparecimento
de outros hereges.
Apesar de ser desculpável filosoficamente e necessária em caso de guerra,
há gente que prefere morrer a matar.
Danton preferia ser guilhotinado a
guilhotinar. Nem por isso deixou de
fazer as duas coisas.
Oscar Niemeyer sempre que pode diz
que só a revolução salvará a sociedade. O general Figueiredo dizia que
uma guerra civil é inevitável. Dois homens diferentes, defendendo causas
diferentes, reconhecem que a questão
é matar ou morrer.
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