São Paulo, Quarta-feira, 12 de Janeiro de 2000


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Matar ou morrer

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Fuzilar um presidente da República, como sugeriu um deputado há pouco, pode ser profilático, mas não resolve o problema. Aparece outro presidente da República, que pode até ser pior do que o fuzilado.
Inseparável do processo humano, a violência é recorrente, não melhora a sociedade, pelo contrário, tende a piorá-la. Mas nunca deixa de ser a alternativa a que se recorre quando as coisas engrossam.
As guerras aí estão para provar que ela é necessária para impedir o domínio de uma violência contrária. No limite: é matar ou morrer -como nos duelos finais dos faroestes de John Ford.
Durante o regime militar, era muito lembrada uma frase de não sei quem, segundo a qual de vez em quando devia-se matar um almirante para dar um susto nos demais. Lembro também o Otto Maria Carpeaux, que desejava ser chefe de polícia por apenas 15 minutos.
Nunca lhe perguntei o que faria nesses 15 minutos. Desconfio que não era boa coisa. Intelectual de grandes cóleras, Carpeaux não era muito diferente de um herói fordiano, tipo John Wayne, só que do outro lado.
Tomás de Aquino distinguiu, na violência, aquilo que chamou de ""ira bonna". A raiva virtuosa, que queima o herege para exemplo dos demais. O que nunca impediu o aparecimento de outros hereges.
Apesar de ser desculpável filosoficamente e necessária em caso de guerra, há gente que prefere morrer a matar. Danton preferia ser guilhotinado a guilhotinar. Nem por isso deixou de fazer as duas coisas.
Oscar Niemeyer sempre que pode diz que só a revolução salvará a sociedade. O general Figueiredo dizia que uma guerra civil é inevitável. Dois homens diferentes, defendendo causas diferentes, reconhecem que a questão é matar ou morrer.


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