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CARLOS HEITOR CONY
Gênero de vida
RIO DE JANEIRO - Vejo na estante o livro antigo, o terceiro romance de Alexandros Evremidis, um escritor
que anda sumido da paisagem. Publicara antes ""Melissa" (1974) e "Adeus, Grécia" (1975). É um painel
autobiográfico de um grego que se
perdeu pelo mundo e se encontrou no
Brasil. Podia ter sido no Paraguai ou
na Polinésia, ele continuaria grego.
O seu texto, se não é perfeito em termos de vernáculo, é mais do que perfeito em termos de língua literária.
Ele o encontrou de forma surpreendente porque, antes de verbalizar seu
discurso, tratou de encontrar a sua
própria vida. Fatalmente teria de dar
no que deu: num romancista.
A crítica acusou em Alexandros
Evremidis a fixação no sexo, naquilo
que poderia parecer um gênero pornô. Se assim é, viva a pornografia!
Tanto em ""Melissa" como principalmente em ""Adeus, Grécia" corre bastante esperma -como na vida real.
Alexandros viveu sua infância na
Grécia, em ambiente camponês, viu
guerras e ditaduras, sofreu o diabo,
pegou a estrada, frequentou universidades em cinco diversos continentes,
tem do destino em geral e do seu destino em particular uma visão de grego, um autêntico ""pathos". Um povo
que faz história e depois sai da história deve saber o que está fazendo.
É o caso de Alexandros. Por isso
mesmo, esse seu terceiro livro, ""Claudinha no Ano da Loucura", é mais
um episódio do mesmo personagem
que uiva de fome e de desejo nos livros anteriores, em parte amadurecido em seus valores carnais. Ou seja:
para os padrões da crítica convencional, o eterno imaturo diante do sexo
e do amor.
Alexandros compreende na própria
carne a nenhuma distinção entre o
""morfé e o poé", a forma e o conteúdo. Os gregos também inventaram
essas coisas. O relato de suas relações
com Claudinha não tem a complicação de Nabokov: é uma Lolita da zona norte do Rio, que acaba na cama
do homem maduro e errante. Juntos
fazem a experiência do já experimentado. E talvez seja essa a melhor definição para o romance: gênero literário, gênero de vida.
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