São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 2003

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PREPARATIVOS DE GUERRA

À medida que se aproxima a data mais conveniente para lançar um ataque militar contra o Iraque, os EUA vão deixando vazar para a imprensa seus planos, tanto para a guerra como para a administração do Iraque pós-Saddam Hussein.
O jornal "The Washington Post", por exemplo, indicou que a força inicial de ataque terrestre poderá exceder 100 mil homens e incluir quatro divisões pesadas do Exército, uma divisão aerotransportada, uma divisão dos fuzileiros navais e várias unidades de forças especiais. O periódico chega a citar os nomes das divisões que deverão ser utilizadas.
Já o "The New York Times" informou que os militares norte-americanos deverão controlar o Iraque por um prazo de pelo menos 18 meses, depois da queda do regime. Os próprios americanos calculam que essa será a maior ocupação militar desde as do Japão e da Alemanha ao fim da Segunda Guerra Mundial.
É possível que a reconstrução do Iraque reserve mais dificuldades do que a deposição de Saddam propriamente dita. Um dos problemas iniciais será manter o país unido. A minoria curda, por exemplo, poderia ver-se tentada a aproveitar a confusão reinante com a deposição de Saddam para tentar estabelecer um Estado curdo há tanto tempo reclamado. Vizinhos hostis, como o Irã, poderiam tentar acertar "manu militari" velhas disputas territoriais.
Outra questão premente será a do petróleo. Bush deverá logo nos primeiros momentos da invasão ocupar os campos petrolíferos. Os militares temem que, se os EUA não o fizerem, Saddam poderá, numa estratégia de guerra de guerrilhas, destruir a infra-estrutura de exploração. É claro que isso vai reforçar o discurso dos que afirmam que o petróleo é a verdadeira motivação para o ataque, o que pode gerar problemas políticos para os norte-americanos. É por isso que Washington anuncia desde já que o óleo é "patrimônio do povo iraquiano" e que os EUA apenas ajudarão a administrá-lo.
Uma grande incógnita é como as tropas serão recebidas. Não se sabe se a população verá os militares norte-americanos como uma força libertadora ou como um exército invasor. Acrescente-se a essa indefinição a inexistência de uma oposição representativa a Saddam e ao mesmo tempo "confiável" para os EUA e percebe-se o quão difícil será a transição da ocupação militar para a criação de um governo provisório e, daí, para um "Iraque democrático" como pretende a Casa Branca.
São tantas as dificuldades e as incertezas admitidas pelos próprios norte-americanos na ocupação militar do Iraque e tão discutíveis os motivos que justificariam a deposição de Saddam que caberia perguntar se o presidente Bush realmente avaliou com o devido cuidado os prós e os contras da operação militar para derrubar o ditador iraquiano.



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