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PARTOS DE RISCO
Que o Brasil é o recordista
mundial na realização de cesarianas já era um fato conhecido, mas
isso não reduz o impacto da revelação de que o método é utilizado em
nada menos que 80% dos partos realizados por meio de planos e seguros-saúde privados. O percentual é
quatro vezes superior ao recomendado pela OMS (Organização Mundial
da Saúde) e quase três vezes maior
que o registrado na rede de hospitais
públicos brasileiros.
Inúmeros estudos médicos sustentam que a cesárea acarreta mais riscos que o parto normal, tanto para a
mãe quanto para o bebê. A possibilidade de morte materna é três vezes
maior nesse procedimento, que também pode elevar a incidência de problemas respiratórios nas crianças.
É imperioso reduzir esse percentual, mas a alteração exige medidas
mais ousadas do que a proposta pela
ANS (Agência Nacional de Saúde),
responsável pelo credenciamento
dos planos e seguros privados.
A entidade pretende reunir em fevereiro representantes das empresas
para tentar convencê-las a reduzir
em 15% o número de cesarianas, o
que diminuiria o índice nesse segmento para 68%, ainda bastante acima do patamar visto como razoável.
Na Holanda, por exemplo, a cesariana é adotada em 14% dos partos. A
Espanha apresenta um percentual de
22% e, os Estados Unidos, de 26%.
Por enquanto, o único instrumento
de persuasão que a ANS parece disposta a adotar é a inclusão do número de cesáreas entre os critérios que a
agência utiliza para classificar os planos e seguros de saúde, na esperança
de que ele tenha influência sobre a
opção dos consumidores.
Isoladamente, é pouco provável
que a medida tenha algum efeito. A
redução do número de cesarianas
exige alterações no sistema educacional dos médicos, que dá pouca
ênfase ao parto normal, e na própria
estrutura de funcionamento dos
hospitais, com ampliação da participação de profissionais assistentes,
como enfermeiros obstétricos, a
exemplo do que ocorre em outros
países. Isso sem falar em uma mudança sociocultural, que estimule as
mães a optar pelo parto normal.
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