São Paulo, quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

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PARTOS DE RISCO

Que o Brasil é o recordista mundial na realização de cesarianas já era um fato conhecido, mas isso não reduz o impacto da revelação de que o método é utilizado em nada menos que 80% dos partos realizados por meio de planos e seguros-saúde privados. O percentual é quatro vezes superior ao recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e quase três vezes maior que o registrado na rede de hospitais públicos brasileiros.
Inúmeros estudos médicos sustentam que a cesárea acarreta mais riscos que o parto normal, tanto para a mãe quanto para o bebê. A possibilidade de morte materna é três vezes maior nesse procedimento, que também pode elevar a incidência de problemas respiratórios nas crianças.
É imperioso reduzir esse percentual, mas a alteração exige medidas mais ousadas do que a proposta pela ANS (Agência Nacional de Saúde), responsável pelo credenciamento dos planos e seguros privados.
A entidade pretende reunir em fevereiro representantes das empresas para tentar convencê-las a reduzir em 15% o número de cesarianas, o que diminuiria o índice nesse segmento para 68%, ainda bastante acima do patamar visto como razoável. Na Holanda, por exemplo, a cesariana é adotada em 14% dos partos. A Espanha apresenta um percentual de 22% e, os Estados Unidos, de 26%.
Por enquanto, o único instrumento de persuasão que a ANS parece disposta a adotar é a inclusão do número de cesáreas entre os critérios que a agência utiliza para classificar os planos e seguros de saúde, na esperança de que ele tenha influência sobre a opção dos consumidores.
Isoladamente, é pouco provável que a medida tenha algum efeito. A redução do número de cesarianas exige alterações no sistema educacional dos médicos, que dá pouca ênfase ao parto normal, e na própria estrutura de funcionamento dos hospitais, com ampliação da participação de profissionais assistentes, como enfermeiros obstétricos, a exemplo do que ocorre em outros países. Isso sem falar em uma mudança sociocultural, que estimule as mães a optar pelo parto normal.


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