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O plano de Bush
Nova estratégia para o Iraque não altera pilares da política que vem prevalecendo até aqui, um acúmulo de fracassos
AO ANUNCIAR anteontem
o envio de mais 20 mil
soldados para o Iraque,
o presidente George
W. Bush passou por cima até de
muitos de seus aliados.
A nova estratégia da Casa
Branca contraria o conselho dos
ex-comandantes militares dos
EUA no Iraque, os planos do premiê iraquiano Nuri al Maliki, a
recomendação do comitê bipartidário que sugeria o início de
uma retirada honrosa e, principalmente, contrapõe-se ao resultado das últimas eleições legislativas norte-americanas, nas
quais a maioria da população votou claramente contra a guerra.
A decisão de Bush também vai
de encontro à experiência militar e política acumulada ao longo
dos últimos quatro anos no Iraque. Tentativas semelhantes fracassaram.
Não obstante tantas e tão variadas advertências, o líder norte-americano segue falando em
vitória no Iraque. Houve, é verdade, progressos na marcha presidencial rumo a uma visão menos obnubilada da realidade. Pela primeira vez, Bush admitiu a
possibilidade de os EUA saírem
derrotados e reconheceu ter cometido erros de estratégia.
Ao que tudo indica o novo plano é mais um desses equívocos.
Os 20 mil soldados adicionais
elevariam o efetivo norte-americano para 152 mil. Em pelo menos duas ocasiões, já estiveram
ali 160 mil militares e, como se
sabe, não resolveram a situação.
É claro que, em teoria, o novo
plano poderia funcionar para pacificar Bagdá -a principal prioridade. O despacho de mais cinco
brigadas -17.500 homens- para
a capital praticamente dobraria
o contingente de militares norte-americanos envolvidos em operações de segurança ali. Não é
uma força desprezível.
O problema da nova estratégia
é que ela depende de muitos poréns. Mesmo 35 mil homens é
pouco para policiar uma cidade
conflagrada de 6 milhões de habitantes. A idéia é que os norte-americanos apóiem tropas iraquianas. Mas, para que isso funcione, é preciso que as forças de
segurança locais e as autoridades
políticas estejam realmente empenhadas em conter a violência
sectária e manter um Iraque
multiétnico unido.
Há dúvidas de que seja este o
caso. Para começar, parte das
milícias xiitas que promovem a
guerra civil estão infiltradas no
Exército iraquiano. A idéia de
trazer tropas curdas do norte
também é problemática. A melhor chance que os curdos têm de
formar um Estado nacional independente passa pela fragmentação do atual Iraque.
A proposta de fazer com que
investimentos sociais -principalmente a geração de empregos- acompanhem as ações militares é boa, mas parece tardia.
Após quatro anos de ocupação e
US$ 30 bilhões empenhados em
projetos civis, os bagdalis ainda
não dispõem de mais de 3,7 horas diárias de eletricidade.
A verdade é que a guerra no
Iraque foi um desastre em todos
os sentidos. O presidente Bush
fala em vitória e propõe uma escalada para um conflito que, a essa altura, dificilmente comporta
solução militar. Pior, o faz contrariando a tudo e a todos.
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