São Paulo, sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

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O plano de Bush

Nova estratégia para o Iraque não altera pilares da política que vem prevalecendo até aqui, um acúmulo de fracassos

AO ANUNCIAR anteontem o envio de mais 20 mil soldados para o Iraque, o presidente George W. Bush passou por cima até de muitos de seus aliados.
A nova estratégia da Casa Branca contraria o conselho dos ex-comandantes militares dos EUA no Iraque, os planos do premiê iraquiano Nuri al Maliki, a recomendação do comitê bipartidário que sugeria o início de uma retirada honrosa e, principalmente, contrapõe-se ao resultado das últimas eleições legislativas norte-americanas, nas quais a maioria da população votou claramente contra a guerra.
A decisão de Bush também vai de encontro à experiência militar e política acumulada ao longo dos últimos quatro anos no Iraque. Tentativas semelhantes fracassaram.
Não obstante tantas e tão variadas advertências, o líder norte-americano segue falando em vitória no Iraque. Houve, é verdade, progressos na marcha presidencial rumo a uma visão menos obnubilada da realidade. Pela primeira vez, Bush admitiu a possibilidade de os EUA saírem derrotados e reconheceu ter cometido erros de estratégia.
Ao que tudo indica o novo plano é mais um desses equívocos. Os 20 mil soldados adicionais elevariam o efetivo norte-americano para 152 mil. Em pelo menos duas ocasiões, já estiveram ali 160 mil militares e, como se sabe, não resolveram a situação.
É claro que, em teoria, o novo plano poderia funcionar para pacificar Bagdá -a principal prioridade. O despacho de mais cinco brigadas -17.500 homens- para a capital praticamente dobraria o contingente de militares norte-americanos envolvidos em operações de segurança ali. Não é uma força desprezível.
O problema da nova estratégia é que ela depende de muitos poréns. Mesmo 35 mil homens é pouco para policiar uma cidade conflagrada de 6 milhões de habitantes. A idéia é que os norte-americanos apóiem tropas iraquianas. Mas, para que isso funcione, é preciso que as forças de segurança locais e as autoridades políticas estejam realmente empenhadas em conter a violência sectária e manter um Iraque multiétnico unido.
Há dúvidas de que seja este o caso. Para começar, parte das milícias xiitas que promovem a guerra civil estão infiltradas no Exército iraquiano. A idéia de trazer tropas curdas do norte também é problemática. A melhor chance que os curdos têm de formar um Estado nacional independente passa pela fragmentação do atual Iraque.
A proposta de fazer com que investimentos sociais -principalmente a geração de empregos- acompanhem as ações militares é boa, mas parece tardia. Após quatro anos de ocupação e US$ 30 bilhões empenhados em projetos civis, os bagdalis ainda não dispõem de mais de 3,7 horas diárias de eletricidade.
A verdade é que a guerra no Iraque foi um desastre em todos os sentidos. O presidente Bush fala em vitória e propõe uma escalada para um conflito que, a essa altura, dificilmente comporta solução militar. Pior, o faz contrariando a tudo e a todos.


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