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RUY CASTRO
Grade da paz
RIO DE JANEIRO - Fui fazer
compras de Carnaval na S.A.A.R.A.
A sigla, com esse aroma de avelãs e
tâmaras, refere-se à Sociedade dos
Amigos de Adjacências da Rua da
Alfândega. Trata-se de um mercado
a céu aberto no Centro do Rio, delimitado pelas ruas da Alfândega e
Buenos Aires, no sentido mar, e
praça da República e rua dos Andradas, no sentido continente.
É uma grade de ruas que mascates sírios, libaneses, turcos, judeus,
gregos e espanhóis ocuparam ao
descer dos navios, quando se abriram os portos brasileiros, em 1808,
e seus descendentes estão lá até hoje. Consta de 600 lojinhas de tecidos, temperos, presentes, decoração e fantasias. Numa delas, a Casa
Turuna, Carmen Miranda comprou
os adereços para sua primeira baiana, em 1938. Não muito longe da
rua Senhor dos Passos, 59, onde ela
já havia morado com sua família aos
dois anos, em 1911.
A S.A.A.R.A. recebe 70 mil pessoas por dia e é um dos lugares mais
seguros do Rio. Não tem pivetes,
mendigos e batedores de carteira, e
não se sabe de brigas, altercações ou
bate-bocas, nem mesmo entre comerciantes vizinhos e do mesmo
ramo. Ao contrário: os árabes e judeus que disputam a freguesia competem nos preços e ofertas, mas vão
almoçar juntos num dos ótimos
restaurantes da região e riem das
respectivas piadas.
Não que não sofram com a tragédia da faixa de Gaza. Acontece que
se conhecem desde que nasceram e,
antes disso, seus pais já eram amigos e irmãos. Além disso, são cariocas -uma categoria que ignora as
barreiras de origem. Ali não há barreiras. Foi o que constatei ao fazer
minhas compras de Carnaval.
Ah, sim, comprei confete e serpentina, como sempre, e um ou outro clóvis. Pensei também numa
máscara do Obama. Mas preferi levar a do Obina, homem, até agora,
de maior personalidade.
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