São Paulo, quarta-feira, 12 de fevereiro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Por que lutar pelos salários
PAULO PEREIRA DA SILVA
É justo isso? Claro que não. Portanto, que fique bem claro e transparente: é por isso, e não porque queremos perturbar o governo, que tomamos a decisão de liderar uma campanha salarial de emergência para todos os trabalhadores que tiveram data-base no segundo semestre. Essa campanha será feita juntamente com as categorias com data-base no primeiro semestre. Esses trabalhadores que tiveram aumento no início do ano passado também já viram o dragão inflacionário cuspir fogo nos seus parcos rendimentos. Um levantamento do Dieese mostrou que os metalúrgicos de São Paulo, que obtiveram reajuste de 10,26% em novembro, já perderam mais da metade desse valor em apenas dois meses. É que o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), mesmo indicador usado para corrigir os salários, acumulou 6,18% somente nos meses de novembro e dezembro. E, se as projeções se mantiverem, os metalúrgicos verão todo o reajuste conquistado há poucos meses virar pó até fevereiro. Resultado: além de perder o reajuste em apenas quatro meses, os metalúrgicos terão de esperar até novembro para ter novo aumento. A inflação até lá já terá consumido grande parte do seu salário. Citei os metalúrgicos, mas caso semelhante acontece com os químicos, os padeiros, os têxteis, os gráficos, os comerciários, entre outros. Já conversamos com a CBTE, que também aceitou participar da campanha. Conversamos com a CGT e vamos procurar a SDS e a CUT. Acreditamos que essa luta é de todos nós, representantes dos trabalhadores. Não é justo vermos somente os trabalhadores serem punidos e apenas uma parte da sociedade pagar a conta. Muitos críticos têm argumentado que, com tal campanha, estaríamos alimentando e fortalecendo a volta da inflação. Isso é uma falácia. A inflação já voltou. É injusto dizer que queremos a indexação e que isso tem viés político. Queremos apenas repor nossas perdas. O governo tem a obrigação de criar um mecanismo que segure esse dragão, cujo poder de corrosão conhecemos muito bem. Se o governo não segura a inflação, não podemos segurar os salários. Vale insistir na idéia: com salários baixos e inflação alta, não há consumo. Sem consumo, não há crescimento econômico. Sem crescimento, há demissões. É claro que, feitas as reformas estruturais (previdenciária, tributária e fiscal) -que sempre apoiamos e nunca são feitas-, melhora o ambiente econômico. Mas, se formos esperar por isso para recompor perdas salariais, voltaremos, mais uma vez, à cruel teoria do bolo. Não foi para isso, claro, que ajudamos a eleger o presidente Lula. É por isso, então, que vamos lutar pelo que é justo e urgente. A estabilidade econômica é, sem sombra de dúvida, importante. Mas salário digno e empregos também são. É isso que a Força Sindical defende e continuará defendendo, qualquer que seja o governo. Paulo Pereira da Silva, 46, é presidente da Força Sindical. Foi candidato a vice-presidente da República na chapa de Ciro Gomes (PPS). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Carlos de Meira Mattos: Nova guerra, novas armas Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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