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ELIANE CANTANHÊDE
O tudo dá em nada
BRASÍLIA - Quem levantou a
bandeira da CPI da Tapioca foi a
oposição - DEM à frente, como é
usual-, a partir das revelações de
desvios com os cartões corporativos do governo federal que, por verdadeiras, derrubaram a ministra
Matilde Ribeiro.
Mas esse foi o único passo concreto dos oposicionistas, que, desde
então, vêm perdendo, um a um, os
lances em direção à CPI.
Enquanto DEM e PSDB ficavam
na ameaça, o líder governista Romero Jucá sacou rápido e atirou
primeiro, apresentando o requerimento de uma comissão só do Senado para investigar igualmente os
governos FHC e Lula.
Enquanto DEM e PSDB, desnorteados, discutiam se deveriam assinar ou não, o governo avançou e já
transformou a comissão do Senado
em mista (senadores e deputados),
diluindo o foco. E, enquanto a oposição rachava em relação ao acordo
de uma CPI mista para FHC e Lula,
os governistas comemoravam.
O desconforto e o racha têm dois
motivos: os gastos vêm desde FHC
e existem também no governo Serra em São Paulo, o que embaralha
ainda mais a estratégia política de
tucanos e democratas em Brasília.
Quem teme CPIs são governos de
plantão, não os que acabaram há
cinco anos. Mas o Planalto não ficou na defensiva, foi para o ataque.
Ele deveria estar na berlinda, mas
puxou os governos FHC e Serra.
A oposição pode berrar à vontade
que antes só havia "gastos do tipo
B" e os cartões só começaram em
2001; ou que os cartões de Serra são
diferentes dos de Lula, porque dirigidos para gastos bem específicos
da administração. Do ponto de vista
político, o efeito é quase nulo.
Tecnicamente, CPIs são para
apurar "fatos determinados". Politicamente, quando a onda vem, a
rede pesca tudo. Quanto maior e
mais disseminado for esse "tudo",
maiores as chances de dar em nada.
Melhor para Lula, melhor para eles
todos, governo e oposição.
elianec@uol.com.br
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