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MARCOS NOBRE
Fechar Guantánamo
AS GUERRAS no Iraque e no
Afeganistão praticamente
desapareceram do debate
nos EUA. É como se a batalha na
opinião pública já tivesse sido ganha contra Bush.
Mas as coisas não são tão simples
assim. Junto com o Iraque veio a
prisão de Guantánamo, base americana em Cuba em que estão os
prisioneiros do que é chamado pelos conservadores de "guerra contra o terror". Em Guantánamo se
torturou, em Guantánamo os prisioneiros não são formalmente
acusados nem têm direito a habeas
corpus.
Os quatro principais candidatos
à indicação já se manifestaram a favor do fechamento da prisão. Fechar Guantánamo é certamente
importante, mas não resolve o problema de base: a violação flagrante
de direitos fundamentais. É bastante possível que se chegue finalmente a um julgamento depois de
mais de sete anos da invasão
do Afeganistão. Mas em que condições?
Veja-se o caso de Omar Ahmed
Khadr. De cidadania canadense, tinha 11 anos quando foi enviado a
um campo de treinamento da rede
terrorista Al Qaeda. Em 2002, aos
15 anos de idade, foi preso pelas
tropas americanas no Afeganistão
e enviado a Guantánamo. Ainda
menor, foi submetido a tratamento
cruel e degradante. Omar Khadr
tem hoje 21 anos e foi oficialmente
considerado "inimigo combatente", o que permite dar início a seu
processo como um criminoso de
guerra.
É difícil saber qual violação dos
direitos fundamentais é a mais grave. Um menor de idade processado
por um Tribunal Militar? Negar-lhe amplo direito de defesa? Processar como maior de idade alguém que foi enviado para a guerra
aos 11 anos de idade? Fazer a maioridade recém-atingida retroagir a
2002 para processá-lo como adulto? Considerar ações terroristas
como ações de guerra?
E Guantánamo não é hoje um caso isolado. A França acaba de aprovar uma lei que permite, em princípio, manter encarcerado pelo resto
da vida um prisioneiro mesmo depois de cumprida sua pena.
Décadas de luta para introduzir
princípios como o da ressocialização do preso estão em xeque pelo
retorno maldisfarçado de idéias
turvas como a da "periculosidade"
de uma pessoa. O princípio de que
uma nova lei não pode retroagir
para agravar a situação de uma pessoa condenada anteriormente foi
inteiramente desconsiderado.
O conservadorismo do governo
Bush pode ter sofrido um duro golpe. Mas ser seguido pela França
não é pouca coisa. Quem sabe Lula
não pode perguntar algo disso em
seu encontro de hoje com o presidente Sarkozy para discutir a situação dos presos brasileiros que cruzaram a fronteira da Guiana em
busca de ouro.
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta
coluna
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