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Paranoia amazônica
Com teses anacrônicas, políticos tentam impedir a adequação da atividade econômica a parâmetros ambientais sustentáveis
A QUALIDADE do debate
público em países democráticos pode ser
inferida pelo teor das
manifestações dos representantes da sociedade no Legislativo.
No Brasil, cujo Congresso é ainda lastreado, em grande parte, na
influência de oligarquias regionais com traços arcaicos, não
surpreende que discussões sobre
questões ambientais -tema que
veio para ficar na agenda global-
se revelem tão medíocres.
A banda parlamentar mais retrógrada, na ausência de argumentos em prol da destruição da
natureza, responde com paranoia às tentativas de adequação
da atividade econômica a parâmetros compatíveis com a preservação ambiental.
Sobretudo no que toca às modalidades mais intensivas em recursos naturais, como a agricultura, a mineração e a produção
de energia, procura-se pintar as
agências ambientais e seus aliados como inimigos do desenvolvimento nacional. Na melhor hipótese, seriam inocentes úteis a
serviço de ambições externas.
Não é preciso estar na pele de
ruralistas antiquados, como tantos no Congresso, para endossar
essas teorias conspiratórias. Parlamentares feitos ministros da
cota do PMDB, Reinhold Stephanes, da Agricultura, e Edison Lobão, das Minas e Energia, não titubeiam em atacar o Ministério
do Meio Ambiente e defender interesses especiais de clientes.
Faz coro com eles o deputado
federal Aldo Rebelo (PC do B-SP), que qualificou o MMA como
"organização paraestatal" em
entrevista à Folha. Para ele, ministério e ONGs estão mancomunados para desfavorecer a
agricultura e erguer barreiras
aos produtos nacionais.
Rebelo concede que há "degradação no mundo e no Brasil",
mas apenas para atacar em seguida: "O que eu estou é destacando que uma parcela do movimento ambientalista é neomalthusiana e neocolonial. Como
não existe mais floresta na Europa, escolhe-se um país do Terceiro Mundo para ser uma espécie de jardim botânico europeu,
e você submete a população da
Amazônia, de camponeses, de
caboclos e de ribeirinhos, ao regime de terror".
Retrocede-se, com tais despropósitos e exageros, ao padrão das
reações de militares nacionalistas, em décadas passadas, diante
das primeiras denúncias internacionais sobre a destruição da
Amazônia. Só faltou o deputado
reciclar o slogan anticomunista
-que em outros tempos se voltava contra ele- e alardear um
suposto "perigo verde".
Seria apenas uma manifestação folclórica e reacionária, não
fosse Rebelo relator da comissão
da Câmara que analisa mudanças no Código Florestal.
É possível e necessário rever o
código, para adequá-lo à realidade do agronegócio exportador. A
regulamentação pode ser importante para conciliar o crescimento do produto agrícola com
um basta à dilapidação do capital
natural, por meio do aumento da
produtividade. Como se sabe,
respeito a normas sustentáveis é
um valor em alta no próprio
mercado internacional.
Não será com visões maniqueístas e reações paranoicas
que se travará um debate racional sobre o tema.
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