São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2011

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FERNANDO RODRIGUES

Agora, vai...

BRASÍLIA - O presidente do Senado, José Sarney, criou uma comissão para tratar da reforma política. Agora, vai. Vale a lógica satírica de escritório sintetizada pelo personagem de história em quadrinhos Dilbert -quando não quiser resolver um problema, crie uma comissão.
O presidente do grupo é o experiente senador Francisco Dornelles, de 76 anos. Mas fazem parte também dois senadores e ex-presidentes mercuriais: Itamar Franco e Fernando Collor. Em resumo, a chance de haver consenso é zero.
Um eventual fracasso não pode ser classificado como ruim. A julgar pelas ideias recentes defendidas por alguns partidos, Sarney presta um serviço ao embananar o processo. Melhor ficar sem mudanças do que adotar propostas estapafúrdias como a do voto em lista partidária -e não mais nos candidatos a deputado e a vereador.
Outra alteração proposta com força nos últimos tempos é o voto majoritário para deputado. Se São Paulo tem 70 vagas na Câmara, que os 70 mais votados sejam os eleitos. Enfim, a regra básica da democracia. Quem tem mais votos, ganha.
Na realidade, o voto majoritário na eleição do Congresso teria como efeito aumentar a irrelevância dos partidos políticos. Tiriricas sempre venceriam. Hoje, os votos dados a todos os candidatos são contabilizados para os partidos. Cada legenda recebe o número de cadeiras proporcional ao total de apoios obtidos pelos seus candidatos.
A deformação não está na proporcionalidade, e sim nas coligações partidárias em eleições para o Poder Legislativo. O eleitor escolhe um nome do partido "A" e seu voto ajuda o postulante dos partidos "B", "C" e "D". Eliminar essa poligamia teria efeito profilático. O resultado das urnas ficaria mais claro. Mas esse tipo de mudança poucos mencionam quando o tema é reforma política. Assim, o jeito é torcer para que a comissão de Sarney tenha o mesmo destino de todas as anteriores: o oblívio.

fernando.rodrigues@grupofolha.com.br


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