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MAIS DESEMPREGO
Depois de ignorar as críticas,
para logo tentar refutá-las, o
principal órgão federal de coleta de
dados estatísticos, o IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística),
afinal decidiu que aceitará uma importante mudança em sua metodologia de cálculo do desemprego. A
partir de abril, será incorporada à tradicional Pesquisa Mensal de Emprego a contagem dos subocupados,
desencorajados ou desalentados.
Na abordagem convencional, as
pessoas que de tanto procurar emprego acabaram desistindo não poderiam ser consideradas tecnicamente "desempregadas". Embora
essa definição do que seja o desemprego tenha lógica, além da questão
técnica há um componente político.
Afinal, essa metodologia tende a
produzir estatísticas menos assustadoras sobre o desemprego quando
há crise econômica, já que nessas
conjunturas tende a aumentar o número dos que desistem de procurar
trabalho -embora evidentemente
não desistam de sobreviver, em geral
fazendo bicos, amparados na caridade ou à custa de atividades ilegais.
O IBGE anunciou também que pretendia ampliar a cobertura geográfica de suas pesquisas, mas faltaram-lhe verbas. Nesse caso, o efeito possivelmente seria o oposto: a incorporação de mais cidades de porte médio,
algumas distantes dos grandes centros, tende a revelar um quadro menos agudo de desemprego, aberto ou
não. As estatísticas do órgão hoje alcançam apenas as seis maiores regiões metropolitanas do Brasil (Recife, Salvador, Rio, Belo Horizonte,
São Paulo e Porto Alegre).
Mas a questão não se esgota nos
aspectos técnicos ou políticos. O fato
objetivo é que o próprio mercado de
trabalho brasileiro torna-se cada vez
mais precário e aumenta o peso da
informalidade. Ter carteira assinada
é um direito a que têm acesso cada
vez menos trabalhadores. Somente
mudando os filtros com que se coletam os dados é possível entender
melhor essa realidade, como aliás já
fazem a Fundação Seade e o Dieese.
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