São Paulo, segunda-feira, 12 de março de 2001

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MAIS DESEMPREGO

Depois de ignorar as críticas, para logo tentar refutá-las, o principal órgão federal de coleta de dados estatísticos, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), afinal decidiu que aceitará uma importante mudança em sua metodologia de cálculo do desemprego. A partir de abril, será incorporada à tradicional Pesquisa Mensal de Emprego a contagem dos subocupados, desencorajados ou desalentados.
Na abordagem convencional, as pessoas que de tanto procurar emprego acabaram desistindo não poderiam ser consideradas tecnicamente "desempregadas". Embora essa definição do que seja o desemprego tenha lógica, além da questão técnica há um componente político.
Afinal, essa metodologia tende a produzir estatísticas menos assustadoras sobre o desemprego quando há crise econômica, já que nessas conjunturas tende a aumentar o número dos que desistem de procurar trabalho -embora evidentemente não desistam de sobreviver, em geral fazendo bicos, amparados na caridade ou à custa de atividades ilegais.
O IBGE anunciou também que pretendia ampliar a cobertura geográfica de suas pesquisas, mas faltaram-lhe verbas. Nesse caso, o efeito possivelmente seria o oposto: a incorporação de mais cidades de porte médio, algumas distantes dos grandes centros, tende a revelar um quadro menos agudo de desemprego, aberto ou não. As estatísticas do órgão hoje alcançam apenas as seis maiores regiões metropolitanas do Brasil (Recife, Salvador, Rio, Belo Horizonte, São Paulo e Porto Alegre).
Mas a questão não se esgota nos aspectos técnicos ou políticos. O fato objetivo é que o próprio mercado de trabalho brasileiro torna-se cada vez mais precário e aumenta o peso da informalidade. Ter carteira assinada é um direito a que têm acesso cada vez menos trabalhadores. Somente mudando os filtros com que se coletam os dados é possível entender melhor essa realidade, como aliás já fazem a Fundação Seade e o Dieese.


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