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FERNANDO RODRIGUES
Dossiê Caribe exumado
BRASÍLIA - Se tiver juízo, o governo não deveria comemorar a manchete
do jornal "O Globo" de ontem ("Suspeito conta como dossiê Cayman foi
falsificado") (sic). Por várias razões.
A principal está na reportagem que
deu origem ao noticiário carioca.
Trata-se do trecho em que o brasileiro condenado em Miami Oscar de
Barros responde sobre o que diz ser
uma parte "legítima" do dossiê Caribe (é Caribe porque está espalhado
por países daquela região, embora
não nas Ilhas Cayman).
Eis a declaração de Oscar de Barros
sobre a porção verdadeira do dossiê:
"A certidão comprova a existência da
firma CH, J & T Inc., e diz que seus
responsáveis são o ex-ministro Sérgio
Motta e um tal Ray Terrence".
Se Barros tem credibilidade para
identificar a parte podre, deve conhecer a banda boa do papelório.
A empresa (CH, J & T) existe, de
acordo com documentos publicados
na Folha em 11 de novembro de 98.
Sérgio Motta (morto em abril de 98)
era um dos responsáveis por ela, conforme atesta agora Oscar de Barros.
Por que então o governo nunca investigou o caso para valer?
Investigar não convinha ao governo FHC. Havia um caminho simples
para a apuração definitiva: enviar
cartas rogatórias para alguns países,
como sugeriu a Polícia Federal em 19
de fevereiro de 99.
Na noite de 5 de maio de 99, FHC
reuniu-se com o então ministro da
Justiça, Renan Calheiros. Decidiu engavetar tudo. Só processou alguns políticos que se meteram de gaiatos na
história. Nada mais.
O engavetador-geral da República,
Geraldo Brindeiro, e seu aprendiz de
engavetamento, o procurador Luiz
Augusto Santos Lima, interromperam o processo investigatório.
Felizmente, essa gente tem poderes
limitados. Não é desprezível, portanto, a chance de esse esqueleto um dia
ainda ser devidamente exumado.
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