São Paulo, segunda-feira, 12 de março de 2001

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FERNANDO RODRIGUES

Dossiê Caribe exumado

BRASÍLIA - Se tiver juízo, o governo não deveria comemorar a manchete do jornal "O Globo" de ontem ("Suspeito conta como dossiê Cayman foi falsificado") (sic). Por várias razões.
A principal está na reportagem que deu origem ao noticiário carioca.
Trata-se do trecho em que o brasileiro condenado em Miami Oscar de Barros responde sobre o que diz ser uma parte "legítima" do dossiê Caribe (é Caribe porque está espalhado por países daquela região, embora não nas Ilhas Cayman).
Eis a declaração de Oscar de Barros sobre a porção verdadeira do dossiê: "A certidão comprova a existência da firma CH, J & T Inc., e diz que seus responsáveis são o ex-ministro Sérgio Motta e um tal Ray Terrence".
Se Barros tem credibilidade para identificar a parte podre, deve conhecer a banda boa do papelório.
A empresa (CH, J & T) existe, de acordo com documentos publicados na Folha em 11 de novembro de 98. Sérgio Motta (morto em abril de 98) era um dos responsáveis por ela, conforme atesta agora Oscar de Barros. Por que então o governo nunca investigou o caso para valer?
Investigar não convinha ao governo FHC. Havia um caminho simples para a apuração definitiva: enviar cartas rogatórias para alguns países, como sugeriu a Polícia Federal em 19 de fevereiro de 99.
Na noite de 5 de maio de 99, FHC reuniu-se com o então ministro da Justiça, Renan Calheiros. Decidiu engavetar tudo. Só processou alguns políticos que se meteram de gaiatos na história. Nada mais.
O engavetador-geral da República, Geraldo Brindeiro, e seu aprendiz de engavetamento, o procurador Luiz Augusto Santos Lima, interromperam o processo investigatório.
Felizmente, essa gente tem poderes limitados. Não é desprezível, portanto, a chance de esse esqueleto um dia ainda ser devidamente exumado.


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