São Paulo, quarta-feira, 12 de março de 2008

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MELCHIADES FILHO

Mamãe eu quero

BRASÍLIA - Ao puxar Dilma Rousseff para o palanque, Lula finca pé no debate da sucessão. Impede que a oposição monopolize as especulações, defina o cenário e estrangule a decolagem do nome que o governo vier a escolher.
A ministra da Casa Civil é dos (poucos) assessores que nutrem carinho sincero pelo presidente e devotam obediência absoluta a ele. Não chiará, nem teria como, se lhe pedirem a "candidatura" de volta.
Além disso, oferece o álibi perfeito: gerencia o principal programa do segundo mandato. Lula sempre poderá citar o PAC para rebater acusações de uso eleitoreiro da máquina. Seria difícil sustentar a máscara se optasse por Tarso Genro ou Marta Suplicy ou referendasse já um não-petista como Ciro Gomes.
A Dilma não custa nada o teatro pré-eleitoral. Rodando o país, no mínimo garante visibilidade ao pacote de obras. Rodando o país ao lado de Lula, ganha cacife político para enquadrar aliados menos submissos e fazer o PAC andar melhor.
O PT enfrenta neste ano duras eleições municipais. Precisa tirar o máximo da popularidade de Lula e ampliar a aderência às realizações dele. Por isso também aplaudiu a novidade. Na semana passada, a bancada jurou fidelidade ao PAC e destacou um grupo para defender os pleitos de Dilma na Câmara. Nenhuma das alas que se digladiam no partido, cada uma com seu próprio nome para 2010, deu um pio. Dilma é bem capaz de ir longe.
Construiu imagem, justa ou não, de boa administradora. Tem repertório para encarar uma campanha que exigirá conteúdo técnico. Não assusta o grande capital nacional -pelo contrário, na Casa Civil foi ouvinte atenta e aliada valiosa dele.
Seu ponto fraco, a cintura dura, vira ponto forte na propaganda: "a candidata que não transige com a incompetência e o fisiologismo". Mas pouco disso, se é que algo disso, importou até aqui. Por ora, a "mãe do PAC" é um projeto de curto prazo, para ocupar espaços.


mfilho@folhasp.com.br

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