São Paulo, quarta-feira, 12 de março de 2008

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ANTONIO DELFIM NETTO

Economia e voto

A FAMOSA advertência "é a economia, estúpido!", que faz carreira há alguns anos, é simplesmente a expressão de um fenômeno constatado empiricamente desde meados do século passado: que a situação econômica e a expectativa sobre ela determinam em larga medida a direção do voto da maioria dos eleitores.
Nas duas últimas décadas, ela mostrou a sua força entre nós em ao menos três episódios: 1º) na vitória eleitoral do governo como conseqüência do efêmero sucesso econômico e social do Plano Cruzado, em 1986; 2º) na primeira eleição de FHC, ao suceder Itamar Franco, que teve um crescimento médio em 1993/94 de 5,4% do PIB e um vigoroso plano de estabilização em andamento; 3º) na derrota do candidato do governo FHC em 2002, quando a situação econômica era dramática (crise energética e insolvência externa).
Quando se institucionaliza a possibilidade de reeleição sem a obrigação de desincompatibilização do incumbente e sem a sociedade dispor de um controle social adequado sobre o financiamento da campanha e suas lamentáveis conseqüências, o fato "economia" parece diminuir de importância.
O que parece ser claro neste momento é que, na ausência de uma crise de proporções, que até agora o radar da economia mundial não registra, a situação econômica do Brasil está "contratada" para 2008: crescimento do PIB entre 5% e 6% e taxa de inflação entre 4% e 5%. O saldo comercial vai diminuir, e o déficit em conta corrente deve aumentar, dependendo da evolução da exportação (influenciada pela economia mundial) que gera emprego e renda e do substancial aumento das importações (devido ao robusto crescimento do PIB e à "super"-valorização do real), que estimulam o aumento da competição e da produtividade internas. Nada de dramático no curto prazo.
É um grave equívoco pensar as "importações" como "substituição" da produção e do emprego nacionais (o que pode eventualmente ocorrer quando a política econômica é "míope"). Elas são, basicamente, insumos para a produção do próprio PIB. De fato, a capacidade de importar (quantum exportado x preço de exportação/preço de importação) limita, cedo ou tarde, a taxa de crescimento do PIB.
Esses fatos mostram que a eleição municipal de 2008 será uma dura empreitada para a oposição. Em nível nacional, será pouco eficaz persistir na crítica emocional: deve concentrar-se na formulação de um programa que seja "sentido" pela sociedade como uma alternativa melhor do que o atual. No pleito municipal, deve municipalizar: cuidar dos problemas locais para reduzir a importância dos bons resultados econômicos gerais sobre os votos dos munícipes.


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ANTONIO DELFIM NETTO
escreve às quartas-feiras nesta coluna.


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