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ANTONIO DELFIM NETTO
Economia e voto
A FAMOSA advertência "é a
economia, estúpido!", que
faz carreira há alguns anos, é
simplesmente a expressão de um
fenômeno constatado empiricamente desde meados do século
passado: que a situação econômica
e a expectativa sobre ela determinam em larga medida a direção do
voto da maioria dos eleitores.
Nas duas últimas décadas, ela
mostrou a sua força entre nós em
ao menos três episódios: 1º) na vitória eleitoral do governo como
conseqüência do efêmero sucesso
econômico e social do Plano Cruzado, em 1986; 2º) na primeira eleição de FHC, ao suceder Itamar
Franco, que teve um crescimento
médio em 1993/94 de 5,4% do PIB
e um vigoroso plano de estabilização em andamento; 3º) na derrota
do candidato do governo FHC em
2002, quando a situação econômica era dramática (crise energética e
insolvência externa).
Quando se institucionaliza a
possibilidade de reeleição sem a
obrigação de desincompatibilização do incumbente e sem a sociedade dispor de um controle social
adequado sobre o financiamento
da campanha e suas lamentáveis
conseqüências, o fato "economia"
parece diminuir de importância.
O que parece ser claro neste momento é que, na ausência de uma
crise de proporções, que até agora
o radar da economia mundial não
registra, a situação econômica do
Brasil está "contratada" para 2008:
crescimento do PIB entre 5% e 6%
e taxa de inflação entre 4% e 5%. O
saldo comercial vai diminuir, e o
déficit em conta corrente deve aumentar, dependendo da evolução
da exportação (influenciada pela
economia mundial) que gera emprego e renda e do substancial aumento das importações (devido ao
robusto crescimento do PIB e à
"super"-valorização do real), que
estimulam o aumento da competição e da produtividade internas.
Nada de dramático no curto prazo.
É um grave equívoco pensar as
"importações" como "substituição" da produção e do emprego nacionais (o que pode eventualmente
ocorrer quando a política econômica é "míope"). Elas são, basicamente, insumos para a produção
do próprio PIB. De fato, a capacidade de importar (quantum exportado x preço de exportação/preço de
importação) limita, cedo ou tarde,
a taxa de crescimento do PIB.
Esses fatos mostram que a eleição municipal de 2008 será uma
dura empreitada para a oposição.
Em nível nacional, será pouco eficaz persistir na crítica emocional:
deve concentrar-se na formulação
de um programa que seja "sentido"
pela sociedade como uma alternativa melhor do que o atual. No pleito municipal, deve municipalizar:
cuidar dos problemas locais para
reduzir a importância dos bons resultados econômicos gerais sobre
os votos dos munícipes.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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