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VINICIUS TORRES FREIRE
O Brasil é irreversível?
SÃO PAULO - Ao ler a Folha de ontem, volta aquela sensação, recorrente nos últimos 20 anos, de que o país é um bólido besta e desembestado na direção de um muro, de uma rua sem saída, "dead end", como se diz sugestivamente em inglês. Desastres previsíveis como eclipses se desenvolvem
despercebidos. Ontem era o "real forte" de FHC, hoje é a "boa teoria" da
meta de inflação alucinada do petismo-lulismo. Mas houve mais.
Houve a bolha do Cruzado e seu calote, que ainda custa caro ao país.
Houve a Constituição da loucura fiscal. Houve a renegociação do calote
da dívida externa, na verdade uma abertura financeira furtiva, parida
nos governos Sarney, Collor, Itamar e FHC pelo que viria a ser a equipe econômica tucana, os invasores de corpos e instituições que usurparam o poder
federal. Houve Collor. Houve a troca da inflação pelos juros e pela dívida
monstros de FHC, que pagaram a abertura econômica, a modernização
conservadora e a reeleição, bolhas ideológicas infladas com uma bolha
de consumo.
Tais desastres sobrevivem. O país continua à beira do colapso fiscal. O
dinheiro público foi tomado pelo trem da alegria dos servidores de 1988. Pelos juros de FHC-Lula. Pelas socializações de prejuízos e outras bandalhas,
algumas velhas do tempo de Delfim. Pelas vinculações de despesa. Impostos sobre salários e empresas cobrem a assistência social dos miseráveis, que
deveria ser paga pelo financismo. Cadê a reforma dos impostos, mínimo
social das esquerdas?
Quase não há mais o que cortar no Orçamento, não há de onde tirar
mais imposto. A despesa financeira é revoltante de alta. Mas o petismo-lulismo vai comprar com um aumento irresponsável de salário de servidor a
redução do ruído político deste ano de eleição. Lula, que, encantado pela
macumba economicista de seus tecnocratas, não construiu um cano de
esgoto ou um barraco de alvenaria para o povaréu sem saúde e sem emprego.
Mas Lula pode dar sorte. O país está prenhe de desastre financeiro, mas a
economia mundial pode ajudar a sustentar a ficção lulista-petista-mercadista. A economia pode mesmo crescer um pouco. Quem vai ficar na mesma é o povaréu. Quem liga?
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