São Paulo, quarta-feira, 12 de abril de 2006

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APRIMORAR O MODELO

Por mais eficaz que chegue a ser, o programa Bolsa-Família será insuficiente para retirar seus beneficiários da situação de pobreza em que se encontram. O diagnóstico, que não é novo, foi reforçado em entrevista a esta Folha, publicada anteontem, por Ricardo Paes de Barros, pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
O problema não reside em atender aos mais carentes com programas compensatórios. Mas é claro que não é possível propiciar uma melhora duradoura de sua condição de vida apenas através de modestas compensações financeiras do Estado.
O desejável seria que o governo federal articulasse, com sinergia, o Bolsa-Família a seus 150 outros programas sociais. Com algum esforço, seria possível incluir cada beneficiário em outros programas que lhe pudessem propiciar mais chances de se emancipar e de, assim, abrir mão, no futuro, da renda estatal.
Alguns meios para atingir esse fim já existem. O cadastro geral de beneficiários contém informações sobre trabalho, saúde, renda e moradia dos atendidos e poderia servir de base para a integração entre os programas.
Mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prefere centrar fogo na expansão de um único programa. Com a eleição que se avizinha -e as pesquisas confirmando a superposição estatística entre beneficiários do Bolsa-Família e a intenção de voto no petista-, essa tendência será reforçada. O objetivo é alardear o atendimento de 11,2 milhões de famílias.
Além de ampliar o escopo de beneficiários do Bolsa-Família, o governo anunciou o aumento de R$ 95 para R$ 107 (12,6%) do estipêndio máximo mensal por família, a um custo extra de R$ 300 milhões.
É de lamentar que energia semelhante à despendida por Lula na expansão de seu programa-vedete não venha sendo empregada na racionalização da rede de proteção social do Estado. Dessa rearticulação depende a construção de meios para que as pessoas rompam o ciclo da pobreza.


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