São Paulo, quarta-feira, 12 de abril de 2006

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CARLOS HEITOR CONY

Questão semântica

RIO DE JANEIRO - Por mais que pareça incrível, o grande escândalo de nossos tempos, um dos maiores de toda a nossa história, acabou numa questão semântica. O relatório da CPI dos Correios concluiu seus trabalhos afirmando que houve o mensalão, um tipo de corrupção que, embora sem ser inédito, tomou proporções obscenas na era da moralidade pregada pelo PT -que está no governo e que foi o agente e principal beneficiário da tramóia.
Saiu briga e palavrão no dia final da comissão, com o pessoal do governo querendo mudar o relatório, negando o mensalão, mas sugerindo aceitar outra palavra, como "prebenda". Não teria havido mensalão, dinheiro pago com periodicidade regular aos deputados para votar a favor do governo. Houve prebendas, dinheiro saído de órgãos públicos com a mesma finalidade, a de barganhar apoio ao PT e a Lula.
Toda vez que falam em semântica, lembro a historinha que já contei aqui. Isaac procurou Jacó e disse: "Jacó, meu coração está cheio de tristeza. Ouvi dizer que seu filho Samuel está dando!".
No dia seguinte, Jacó procurou Isaac e informou: "Isaac, meu coração está cheio de alegria. Interroguei meu filho Samuel. Não é verdade que ele está dando. Ele está tomando!".
A piada foi contada por Woody Allen num de seus filmes mais antigos, com o trocadilho em inglês, é claro, eu só fiz a adaptação. E é isso o que está acontecendo com o PT. Decidiu engrossar contra o relatório, que pode ter suas omissões (a mais grave delas é não indiciar Lula), mas, em seu eixo, é um trabalho sério, apoiado em fatos apurados e checados, finalmente aprovados em sessão pública, observadas as normas de praxe.
A choradeira do PT é inclusive anacrônica e inútil. Ainda que o relatório fosse diferente, não mudaria a realidade que o partido criou e da qual dificilmente sairá.
Dando ou tomando, o PT enche o coração de todos nós de tristeza.


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