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CARLOS HEITOR CONY
Questão semântica
RIO DE JANEIRO - Por mais que pareça incrível, o grande escândalo de
nossos tempos, um dos maiores de toda a nossa história, acabou numa
questão semântica. O relatório da
CPI dos Correios concluiu seus trabalhos afirmando que houve o mensalão, um tipo de corrupção que, embora sem ser inédito, tomou proporções
obscenas na era da moralidade pregada pelo PT -que está no governo e
que foi o agente e principal beneficiário da tramóia.
Saiu briga e palavrão no dia final
da comissão, com o pessoal do governo querendo mudar o relatório, negando o mensalão, mas sugerindo
aceitar outra palavra, como "prebenda". Não teria havido mensalão, dinheiro pago com periodicidade regular aos deputados para votar a favor
do governo. Houve prebendas, dinheiro saído de órgãos públicos com
a mesma finalidade, a de barganhar
apoio ao PT e a Lula.
Toda vez que falam em semântica,
lembro a historinha que já contei
aqui. Isaac procurou Jacó e disse: "Jacó, meu coração está cheio de tristeza. Ouvi dizer que seu filho Samuel
está dando!".
No dia seguinte, Jacó procurou
Isaac e informou: "Isaac, meu coração está cheio de alegria. Interroguei
meu filho Samuel. Não é verdade que
ele está dando. Ele está tomando!".
A piada foi contada por Woody
Allen num de seus filmes mais antigos, com o trocadilho em inglês, é claro, eu só fiz a adaptação. E é isso o
que está acontecendo com o PT. Decidiu engrossar contra o relatório, que
pode ter suas omissões (a mais grave
delas é não indiciar Lula), mas, em
seu eixo, é um trabalho sério, apoiado em fatos apurados e checados, finalmente aprovados em sessão pública, observadas as normas de praxe.
A choradeira do PT é inclusive anacrônica e inútil. Ainda que o relatório
fosse diferente, não mudaria a realidade que o partido criou e da qual dificilmente sairá.
Dando ou tomando, o PT enche o
coração de todos nós de tristeza.
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