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RUY CASTRO
De volta ao passado
RIO DE JANEIRO - Foi nos anos
80, pouco depois que a implantação
dos computadores na Redação de
um jornal carioca aposentou as máquinas de escrever. Era o futuro
chegando e, com ele, o fim da matraca das teclas, das laudas amassadas e atiradas na cesta, das correções com xxxxxx cobertos de tinta e
das matérias que tinham de viajar
de mesa em mesa, do repórter ao
editor, ao copy, ao secretário, ao
diagramador e à oficina. Os computadores eram frios, silenciosos e
perfeitos.
Um dia, o desastre. Uma pane paralisou o sistema na hora do fechamento da edição e ninguém conseguia achar a causa do defeito. Corre-corre, angústia entre os técnicos,
desespero entre os editores. O tempo passando e o impensável iria
acontecer: pela primeira vez em
quase 60 anos, o jornal não sairia no
dia seguinte.
Até que alguém da direção teve a
ideia: mandar buscar no depósito,
onde estavam esquecidas, acumulando umidade e poeira, as velhas
máquinas de escrever. O jornal daquele dia teria de ser feito "no braço", como antigamente -como desde que existia jornal. Quando os
contínuos entraram pela Redação
trazendo as Remingtons nos ombros, houve um grito, um urro coletivo, como de gol. O jornal se fez e,
no dia seguinte, o sistema se refez.
O passado voltou para o seu lugar,
mas foi bonito enquanto durou.
Pois, há mais de dez dias, também
estou de volta ao passado. Uma instabilidade no Velox, serviço de internet da Oi, anterior à chuva no
Rio, me deixou na mão. A visita de
um técnico do Velox, solicitada,
prometida e protocolada, não aconteceu. Em vez dela, o silêncio.
Com isso aqui estou, ilhado, sem
internet, impossibilitado de receber e enviar mensagens e ditando
palavras, vírgulas e aspas por telefone, inclusive esta coluna da Folha.
Viva os anos 70.
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