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MARCIO AITH
Anistia da Realpolitik
Está vindo de forma pouco charmosa, mas eficaz, a primeira ação
concreta dos petistas para melhorar a
economia real do país.
Na ausência absoluta de uma política industrial ou de qualquer outro estímulo à expansão do mercado interno, o governo joga sua força e surpreendente flexibilidade ideológica
para aprovar um programa de parcelamento de dívidas tributárias muito
mais generoso que os anteriores,
aprovados no governo FHC sob oposição de setores petistas.
Batizado de Refis 2, o novo programa já foi aprovado na Câmara e
aguarda votação no Senado. Seu texto
permite aos contribuintes pagarem
em 15 anos dívidas com a Receita Federal e com a Previdência Social. Prevê redução das multas em 50% e suspensão da denúncia criminal para crimes tributários contra empresários
que aderirem ao programa.
O Refis de Lula não se parece com o
anterior por três diferenças básicas.
Os juros são os da TJLP (em vez da Selic), não se exigem garantias para
grandes devedores nem a entrega de
extratos bancários ao fisco.
Reconhecendo que um dos principais problemas do setor produtivo é a
falta de capital de giro das empresas, o
projeto de Lula, como foi o de FHC, é
abrangente (engloba todos os tributos
e situações) e incorpora o conceito da
capacidade contributiva (devedoras
pagam suas dívidas de acordo com
seu faturamento).
De um modo geral, Lula demonstra
incrível generosidade com empresários que petistas comparavam a "sonegadores" e responsabilizavam, por
exemplo, pelo déficit da Previdência.
Em 2000, enquanto o programa de
FHC era finalizado, a equipe da recém-eleita prefeita Marta Suplicy se
opunha à "imoralidade" de um similar, em São Paulo, que permitiu o parcelamento de dívidas de tributos municipais.
Não é preciso ir tão longe. Em dezembro passado, o ministro Antonio
Palocci Filho sinalizou à revista "Isto
É" sua oposição a um novo Refis. Segundo ele, era preferível que empresas
pagassem suas dívidas e que o governo deixasse de "estimular um mau
comportamento do contribuinte".
Exemplos na Europa e no México
mostram que anistias e parcelamentos tributários podem ser eficazes na
recuperação da atividade econômica.
Apesar disso, são assuntos considerados mundanos por economistas, que
preferem analisar conjunturas e
acompanhar grandes agregados macroeconômicos.
De fato, o tema envolve aspectos terrenos. Em 2000, advogados do empresário Luiz Estevão tentaram impedir a
prisão de seu cliente alegando que,
dias antes, ele havia enfiado numa caixa de correio o termo de opção do
Grupo OK ao Refis. Estevão era acusado de sonegação fiscal. No mesmo
ano, o empresário Baltazar José de
Souza, que tinha oito empresas de
transporte coletivo em São Paulo e outras 32 no país, usou sua adesão ao Refis para revogar pedido de prisão contra seu filho.
Ao apoiar o Refis 2, o governo aproxima-se da vida real e facilita a vida de
empresários, sejam eles responsáveis
ou sonegadores contumazes. Faltam
agora outras políticas, mais sólidas,
para garantir o crescimento e mostrar
que a atual administração não é uma
versão radical da anterior.
Marcio Aith é editor de Dinheiro. Hoje, excepcionalmente, não é publicado o artigo de Boris
Fausto, que escreve às segundas-feiras nesta coluna.
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