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CARLOS HEITOR CONY
Opinião e público
RIO DE JANEIRO - Deputado federal desconhecido irritou a mídia
ao declarar que estava se lixando
para a opinião pública. No fundo,
quis dizer que se lixava para a própria mídia, que segundo ele, não
forma nem informa a dita opinião
pública.
A reação dos veículos de comunicação foi, como se devia esperar,
imediata e truculenta. A declaração
do deputado foi considerada um insulto -e, na realidade, a intenção
dele deve ter sido essa. Além das intenções, o que sobra é o conteúdo
de sua afirmação. Há mesmo uma
opinião pública ou apenas uma opinião do público? Não parece, mas
são coisas diferentes.
A começar pela raiz da questão.
Ao se falar em opinião pública, imagina-se um pensamento ou um sentimento comum sobre determinado assunto ou coisa. A opinião do
público é como aquela dona da ópera de Verdi: "è mobile". Além disso,
o público é heterogêneo por definição e mal informado por formação.
Até que a mídia não tem culpa
nisso tudo. Ela faz o que pode. Não é
perfeita nem dá conta do recado integralmente. Às vezes tenta fazer
mais do que pode, às vezes se estrepa. O fato é que o público, a mídia,
os governantes, os representantes
do povo fazem parte de uma coisa
complicada e imperfeita que é a
sociedade.
É comum e banalíssimo apelar
para ela, em nome da qual é cobrado um comportamento cívico e moral mais que perfeito, como se ela, a
sociedade, fosse a pedra de toque, o
referencial básico para o julgamento dos atos e fatos humanos. Na realidade, o único referencial existente
e imutável é o próprio homem, feito
do barro e destinado ao pó.
Pessimista profissional, gosto de
citar um dos melhores personagens
de Shakespeare, o vilão Iago: "men
are men". Os homens são homens.
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