|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JOÃO SAYAD
Preto e
branco
1 - UM ALUNO da universidade
pública brasileira custa R$
500/mês. Está barato.
2 - Os alunos das universidades
públicas são mais pobres do que os
alunos das universidades privadas.
3 - Temos 55 milhões de alunos
no ensino fundamental. Poucos
brasileiros em idade de estudar
estão fora da escola.
4 - O custo por aluno da escola
pública é baixo. A escola é de má
qualidade. Às vezes nem alfabetizam. "You get what you pay."
5 - Na Copa de 70, éramos 80 milhões de brasileiros. Não havia vagas para todos os brasileiros em
idade escolar. Trinta anos depois,
somos 160 milhões e quem tem que
estar na escola está ou pode estar.
Não é pouca coisa. Podemos nos
congratular.
6 - Gastamos com educação pública o mesmo que gastamos com
os juros da dívida pública. A despesa com educação é como prestação
de casa própria. A cada pagamento,
você compra um pedacinho da casa. Já o gasto com os juros é como
aluguel. Parou de pagar, é despejado. Gastamos 5% do PIB com juros
há 12 anos e não estamos comprando nada. Se os juros internacionais
sobem, a taxa de câmbio pula e a
inflação volta.
Isto tudo precisa ser dito porque
alguns brasilianistas dizem o contrário. Incluem os gastos com aposentadorias, hospitais universitários e pesquisa tecnológica como
custo do aluno na universidade.
Dizem também que os gastos
com educação fundamental são
altos porque há desperdício. A universidade pública é acusada de
beneficiar apenas os ricos e a "elite
branca".
O Brasil é uma palheta de muitas
cores -branco, preto, vermelho e
manchas de amarelo. O pintor misturou tudo e o que é branco no
Norte é negro no Sul. Somos um
quadro de cores indecifráveis.
Batizaram a universidade pública de elitista e branca e cara. Agora,
querem batizar os brasileiros de
brancos ou negros e existirão cotas
de cor para entrar na universidade.
Até hoje o Brasil tem sofrido de
um racismo envergonhado, disfarçado e proibido pela Constituição,
uma das variedades menos virulentas da pandemia atual.
Enquanto isso a França quer expulsar 25 mil clandestinos assim
que chegarem as férias. Para não
interromper o ano letivo dos francesinhos, filhos dos clandestinos,
que também serão expulsos, apesar de legalmente franceses.
E os americanos querem murar
o México.
Se batizarmos os brasileiros de
pretos ou brancos vamos usar
cores que não existem para solucionar um problema imaginário
em um país em que não faltam
problemas reais.
jsayad@attglobal.net
JOÃO SAYAD escreve às segundas nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Pinga e chuchu Próximo Texto: Frases
Índice
|