São Paulo, segunda-feira, 12 de junho de 2006

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JOÃO SAYAD

Preto e branco

1 - UM ALUNO da universidade pública brasileira custa R$ 500/mês. Está barato.
2 - Os alunos das universidades públicas são mais pobres do que os alunos das universidades privadas.
3 - Temos 55 milhões de alunos no ensino fundamental. Poucos brasileiros em idade de estudar estão fora da escola.
4 - O custo por aluno da escola pública é baixo. A escola é de má qualidade. Às vezes nem alfabetizam. "You get what you pay."
5 - Na Copa de 70, éramos 80 milhões de brasileiros. Não havia vagas para todos os brasileiros em idade escolar. Trinta anos depois, somos 160 milhões e quem tem que estar na escola está ou pode estar.
Não é pouca coisa. Podemos nos congratular.
6 - Gastamos com educação pública o mesmo que gastamos com os juros da dívida pública. A despesa com educação é como prestação de casa própria. A cada pagamento, você compra um pedacinho da casa. Já o gasto com os juros é como aluguel. Parou de pagar, é despejado. Gastamos 5% do PIB com juros há 12 anos e não estamos comprando nada. Se os juros internacionais sobem, a taxa de câmbio pula e a inflação volta.
Isto tudo precisa ser dito porque alguns brasilianistas dizem o contrário. Incluem os gastos com aposentadorias, hospitais universitários e pesquisa tecnológica como custo do aluno na universidade.
Dizem também que os gastos com educação fundamental são altos porque há desperdício. A universidade pública é acusada de beneficiar apenas os ricos e a "elite branca".
O Brasil é uma palheta de muitas cores -branco, preto, vermelho e manchas de amarelo. O pintor misturou tudo e o que é branco no Norte é negro no Sul. Somos um quadro de cores indecifráveis.
Batizaram a universidade pública de elitista e branca e cara. Agora, querem batizar os brasileiros de brancos ou negros e existirão cotas de cor para entrar na universidade. Até hoje o Brasil tem sofrido de um racismo envergonhado, disfarçado e proibido pela Constituição, uma das variedades menos virulentas da pandemia atual.
Enquanto isso a França quer expulsar 25 mil clandestinos assim que chegarem as férias. Para não interromper o ano letivo dos francesinhos, filhos dos clandestinos, que também serão expulsos, apesar de legalmente franceses.
E os americanos querem murar o México.
Se batizarmos os brasileiros de pretos ou brancos vamos usar cores que não existem para solucionar um problema imaginário em um país em que não faltam problemas reais.

jsayad@attglobal.net


JOÃO SAYAD escreve às segundas nesta coluna.


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