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Reforma em reforma
À custa da sociedade, oligarquias dos partidos tentam emplacar, em causa própria, mudanças nas regras da política
OS DEPUTADOS federais
prometem para esta
semana nova tentativa
de romper o impasse
em torno da chamada reforma
política -mudanças nas regras
da representação popular. Com o
fito de destravar essa agenda, está marcada para hoje uma reunião entre líderes da Casa.
É uma pena que os temas escolhidos para dar início à discussão
traduzam mais uma vez a falta de
sintonia entre os parlamentares,
incapazes de colher lições da série de escândalos recentes, e as
demandas da sociedade.
Os proponentes do "pacto" desejam, com o financiamento público de campanhas, aumentar a
fatia de recursos que as legendas
tomam do contribuinte. Já com a
lista fechada, predeterminada
pelo partido, também querem
cassar do eleitor o direito de escolher pelo nome o seu representante nos pleitos para deputado e vereador. Trata-se de uma
"reforma" pensada sob medida
para beneficiar as oligarquias
partidárias, à custa dos cidadãos.
Não passa de sofisma o principal argumento que tenta justificar o financiamento público de
campanhas -o de que ele inibiria as aproximações espúrias entre candidatos, legisladores e governantes, de um lado, e negociantes que buscam obter vantagens ilícitas do poder público. O
fato de haver penas severas para
quem romper a legalidade não
oferece garantia de que o financiamento público será de fato
"exclusivo" no sistema proposto.
O caixa dois, a propina e os favores ilegais a particulares com
dinheiro público continuam a
correr soltos na política mesmo
vetados por lei. O que cabe fazer
em relação às finanças de campanha não é bonificá-las com
mais verba do Orçamento -ao
contrário, o custo dos políticos
para o contribuinte deve diminuir. É necessário aumentar os
controles democráticos, por
exemplo instaurando prestação
de contas diária pela internet,
com discriminação de doadores.
Se o cidadão perderia, na condição de contribuinte, com o financiamento público de campanhas, no caso das listas fechadas
para eleições proporcionais seria
subtraído o seu poder como eleitor. Estaria obrigado a votar em
uma lista de candidatos cuja ordem seria definida por uma elite
partidária -arbítrio devidamente maquiado em convenções de
fachada, como são os encontros
das agremiações brasileiras.
Não é preciso enfraquecer o
voto para fortalecer partidos.
Menos efeitos colaterais haveria
se o Congresso aprovasse um novo texto para a cláusula de desempenho, a votação mínima para uma sigla usufruir de representação parlamentar e propaganda no rádio e na TV. Outro
modo de reforçar os partidos respeitando a vontade do eleitor seria instalar a fidelidade partidária por meio da extensão, de um
para quatro anos, do menor prazo de filiação para que um cidadão possa candidatar-se.
Vencida a agenda das mudanças mais à mão, a reforma política poderia passar a considerar
vôos mais altos. É o caso do voto
distrital misto, que, implantado
com discernimento, aproximaria ainda mais o eleitor de seus
representantes.
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