São Paulo, sexta-feira, 12 de junho de 2009

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TENDÊNCIAS/DEBATES

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Vamos ousar e surpreender os mercados

ALESSANDRO TEIXEIRA


Embora quase todas as principais economias ainda estejam encolhendo, há quem vislumbre o fim da crise

BEN BERNANKE , o presidente do Fed, já fala em "novos brotos" de recuperação, estimulando o debate sobre o início da estabilização da economia mundial. Se comparado ao início do ano, quando o mundo parecia rumar para o precipício, o momento atual aponta para melhores perspectivas.
Números divulgados recentemente pelo governo Obama mostram que nenhum dos 19 maiores bancos americanos está insolvente. E embora quase todas as principais economias ainda estejam encolhendo -em 2009, o FMI prevê que os EUA sofram uma redução do PIB da ordem de 2,8%, a Alemanha, de 5,6%, o Japão, de 6,2%, e o México, de 3,7%-, há quem vislumbre o fim da crise.
Mas o fato é que perdura a incerteza entre os agentes econômicos. Perdemos a confiança na forma como os mercados vinham sendo conduzidos e em suas lideranças, desconfiamos de muitos produtos e dos processos produtivos. Ousamos duvidar de marcas consideradas intocáveis.
Nesse cenário de receios e redobrada competitividade, trabalhamos com previsão de queda de 20% nas nossas exportações neste ano, com recuperação só a partir de meados de 2010, segundo estudos do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e do Banco Central.
Uma dura realidade quando registramos que, em 2008, as empresas participantes dos projetos da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) exportaram US$ 26 bilhões, superando em 41,6% a meta para o período.
Os valores de exportação das empresas apoiadas pela Apex são predominantemente de bens manufaturados e semimanufaturados.
O momento exige mudanças estruturais na dinâmica interna do país.
Não só para a finalização de reformas há muito discutidas -como a tributária, considerando que o Brasil é um dos poucos países que não desoneraram efetivamente as exportações- mas também para a desobstrução de gargalos ao escoamento da produção, como, aliás, contempla o PAC.
Precisamos investir em estratégias para o incremento da inovação e da competitividade das pequenas e médias empresas. É hora, sobretudo, de ousar no acesso a novos mercados.
A diplomacia brasileira tem atuado para fortalecer a cooperação Sul-Sul.
Mercosul, Ibas, diversos fóruns multilaterais (no G-20 o país atua como porta-voz dos emergentes) são algumas dessas iniciativas. Mais que mero esforço diplomático, o governo desenhou uma estratégia de promoção comercial que contempla o aprofundamento das relações com os demais Brics (especialmente China e Índia) e a África, além da atuação em mercados com pouca ou nenhuma tradição nas relações comerciais com o Brasil.
Nessa linha, a Apex-Brasil decidiu focar as ações para 2009 em 23 mercados, a partir dos complexos econômicos apoiados: agronegócios -Angola, Argentina, China, Emirados árabes, EUA, Índia, Rússia, Venezuela; máquinas e equipamentos -Angola, Argentina, China, Colômbia, EUA, Panamá, Peru, Venezuela; moda -Angola, Argentina, China, Colômbia, Emirados Árabes, EUA, Rússia; casa e construção -Angola, Argentina, China, Emirados Árabes, Panamá e Rússia.
Diante do acirramento da competição internacional e de uma conjuntura econômica de desafios, a agência apostou em estratégias competitivas e de inserção em mercados. Hoje, apoia 64 setores em projetos setoriais integrados, cobrindo quase a totalidade das atividades econômicas do país.
Tal iniciativa agregou valor e conhecimento à política de promoção comercial brasileira.
No exterior, a Apex modificou seu modelo de apoio à internacionalização, saindo do mero suporte logístico para o apoio aos negócios. Os centros de distribuição se tornaram centros de negócios, além de trabalhar para atrair investimentos estrangeiros.
No plano doméstico, estabeleceu parceria com a Confederação Nacional da Indústria para estimular as empresas a exportar mais. Entre abril e maio, foram criadas unidades de atendimento nas federações da indústria do Ceará, de Minas Gerais, do Paraná, do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. A expectativa é, até o final do ano, fortalecer ainda mais a presença regional.
Precisamos rever ações e focar nos aspectos estratégicos. Não é a mera reprodução do mesmo que irá garantir o sucesso comercial. Devemos abrir novas frentes e surpreender os mercados positivamente. A recuperação só ocorrerá quando investidores, empresas e consumidores, antes preocupados com a crise, passarem a acreditar que é possível voltar a comprar, contratar e gastar. Com confiança. Bernanke pode ter razão.


ALESSANDRO TEIXEIRA é presidente da Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) e da Associação Mundial de Agências de Promoção de Investimentos (Waipa).


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