São Paulo, domingo, 12 de junho de 2011

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De bactérias e pepinos

O surto da bactéria Escherichia coli (E. coli) na Europa fez ressurgir com força o debate sobre o que é mais relevante quando emerge a ameaça de uma epidemia letal: a precaução a todo custo ou evitar uma onda de alarmismo.
A crise atual provocou prejuízos milionários aos agricultores europeus. Primeiro, autoridades da Alemanha puseram a culpa pela origem do surto no pepino espanhol. Em seguida, ela foi atribuída ao broto de feijão alemão, também inocentado, após testes. Agora, o broto de feijão volta a ser indicado como causador da doença.
Para além dos danos materiais, o surto levou à morte de ao menos 30 pessoas e provocou complicações sérias de saúde em centenas. Outros milhares foram infectados com a bactéria.
Produtores espanhóis de pepino criticam a Alemanha, onde se concentram as vítimas, por ter culpado seu produto de modo precipitado. Dizem ter perdido mais de 400 milhões e lutam para resgatar a "honra" de seu produto, como disse um político. A União Europeia já se comprometeu a ressarcir agricultores, mas o valor oferecido ( 200 milhões) representa apenas a metade do exigido.
O governo alemão argumenta com a urgência de adotar medidas preventivas. Para sorte dos apreciadores do legume espanhol, o pepino nada tinha a ver com o surto. Mas não seria prudente desprezar a única hipótese à mão naquele momento, pois sua confirmação poderia salvar muitas vidas.
Boa parte da complicação reside na dificuldade de apontar a origem do problema. Os especialistas ficam no escuro, sem outro recurso além do método de tentativa e erro, em que eventuais causas são levantadas por investigação epidemiológica, testadas e, muitas vezes, descartadas.
Um bacteriologista que lidera o esforço científico para desvendar o surto admitiu, há alguns dias, que não tinha "a menor ideia" do que provoca a doença.
Em crises de saúde anteriores, como a da gripe H1N1, a comoção causada contribuiu para que seu efeito fosse menos devastador do que inicialmente se previa. Alarmados com as possibilidades catastróficas, autoridades e cidadãos tomam precauções, esvaziando as piores profecias.
O pleito dos agricultores europeus não deve ser ignorado, e é natural que se discutam indenizações polpudas aos prejudicados. Mas, na escolha entre saúde e finanças, é melhor que a balança pese em favor da primeira.


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