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CLÓVIS ROSSI
Corrupção. Como nunca?
SÃO PAULO - Se desse às notícias
que não lhe agradam a mesma atenção que concede à autolouvação, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva
poderia dizer que "nunca neste
país" o nível de corrupção andou
tão elevado.
Nunca é um exagero, vá lá. Mas,
pelo menos de 1966 para cá, a coisa
piorou uma barbaridade, aponta o
Banco Mundial. É claro que, como
de hábito, países mal avaliados
chiam e acusam o banco de falta de
autoridade moral para falar em corrupção, na medida em que teve um
presidente, Paul Wolfowitz, afastado recentemente por conta de um
caso de corrupção.
A chiadeira é livre, mas suponho
que um ou outro leitor conhecerá,
com certeza, um presidente de instituição (o Senado) que, acuado por
suspeitas muito graves e explicações muito tacanhas, não renunciou ao cargo. Ao contrário, aferra-se a ele e ainda faz pronunciamentos cada vez mais ridículos.
Não por acaso, esse presidente é
de um país chamado Brasil, em que
os diferentes itens que medem a
qualidade da governança sofreram
deterioração, de acordo com o Instituto do Banco Mundial, responsável pela pesquisa.
Só falta agora vir um dos debilóides da teoria da conspiração para
dizer que tudo não passa de uma
trama sinistra do imperialismo
norte-americano para abalar o governo popular, democrático e quase
socialista de Lula.
Essas teorias, aliás, deveriam entrar nos estudos do Banco Mundial
como mais uma demonstração da
degradação política do país, em que
o raciocínio foi substituído, em algumas esquinas do poder e em muitos de seus áulicos, pela indigência
mental mais absoluta.
Mas eu até entendo essa gente.
Deve ser muito difícil passar a vida
fingindo-se de os únicos honestos
do planeta apenas para que, no auge
de seu reinado, alguém se atreva a
descobrir e a dizer que há muito de
podre nele.
crossi@uol.com.br
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