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CARLOS HEITOR CONY
O morfema
RIO DE JANEIRO - Estava mais
ou menos distraído quando, de
repente, me vi diante de uma palavra que me derrubou: "morfema!".
Que diabo seria isso? Com alguns
livros publicados, reeditados,
traduzidos e devidamente espinafrados pelas cultas gentes, teria a
obrigação elementar de saber o que
era morfema.
Pelo som da palavra, pensei em
morfeia, em morféticos, em coisas
assim, mas não fazia sentido com a
frase que estava lendo. Quando sofro um assomo de sabedoria e me
considero razoavelmente informado, costumo ler bulas de remédio
para sentir a humilhação de não entender nada do que estou lendo.
O morfema não estava numa bula
de remédio, mas em texto erudito
de um crítico literário. Não tive outro jeito. Fui ao "Aurélio", na esperança de saber o que era, o que podia ser, o que fazia um morfema na
complicada faina do saber.
"Morfema - elemento que confere o aspecto gramatical ao semantema, relacionando-o na oração e delimitando a função e significado.
(Pode ser dependente [afixo, desinências, etc.] e independente (preposição, conjunção etc.)."
Tremi em minhas bases. Fiquei
sabendo mais ou menos o que era
morfema, mas ampliei minha ignorância ao deparar com a palavra
"semantema". Era mais desafiadora do que o próprio morfema, que,
aliás, tem palavras parecidas. O remédio era ir ao dicionário outra vez,
e como o "Aurélio" me pareceu
muito simples, preferi o "Houaiss",
que é mais extenso e complicado.
Por Júpiter! Só de pegar o volumoso dicionário, editado pelo
Roberto Feith, percebi que ficaria
melhor se continuasse ignorando
o que era semantema. Para quem
não ficou sabendo o que era morfema, nada mais podia me interessar.
Apesar disso, meu amigo e companheiro Evanildo Bechara teve a
paciência de mitigar minha
ignorância.
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