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VINICIUS TORRES FREIRE
OdoCiro Paraguaçu
SÃO PAULO - "Palavras são palavras, nada mais do que palavras" dizia
sempre Odorico Paraguaçu, o populista folclórico e esperto encarnado
por Paulo Gracindo, personagem-título de "O Bem Amado", novela e seriado da Globo nos anos 70 e 80. No
debate de domingo passado, na Bandeirantes, Ciro Gomes lembrava a
criatura de Dias Gomes. "A reforma
da Previdência custaria mais ou menos uns 8% do PIB, desde que você
pegue o passivo oculto e faça uma
contabilização escritural. São palavras técnicas, enfim, mas o que é importante é compreender o sistema".
Os populistas folclóricos são hoje
quase apenas folclore, e Ciro não é
um deles. É uma versão modernizada da política em que "palavras, nada mais do que palavras", quaisquer
que sejam, procuram um grupo de
interessados no poder, qualquer grupo, a fim de ganhar a eleição, sem
que seus propósitos sejam claros. Ciro
era um discurso e uma imagem vagando solta à procura de uma coalizão política forte. Encontrou-a.
Sua candidatura é dita de oposição.
Oposição ao quê? As candidaturas de
José Serra e de Ciro são rearranjos do
centrão que governa o país desde
1985. Estavam juntos em 1985, com o
visgo de Tancredo Neves. FHC voltou
a grudá-los em 1993. Ciro e Serra são
sublegendas do centrão. Serra está
mais à esquerda. Ciro reedita Collor:
uma candidatura a princípio e aparentemente "outsider" que reúne
gente reacionária (o PFL de ACM e
Sarney), a escória política (o resto do
collorismo apinhado no PTB), pelegos e um carcomido sem futuro, Leonel Brizola. A diferença é que Ciro é
uma versão revista e melhorada de
Collor e reuniu essa entente conservadora e suspeita antes de chegar ao
poder.
Serra é, sim, o candidato dos banqueiros, do mercado e de uma parte
dos industriais. Ciro está com a gente
que sempre deu esteio ao mercado e,
em breve, fará um acordo com essa
turma que, com desprezo, diz apoiar
seu inimigo de morte, Serra.
Um governo Ciro parece imprevisível. Sua candidatura muda a cada
apoio que recebe. Suas palavras, por
ora, são palavras, nada mais que isso.
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