São Paulo, segunda-feira, 12 de agosto de 2002

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VINICIUS TORRES FREIRE

OdoCiro Paraguaçu

SÃO PAULO - "Palavras são palavras, nada mais do que palavras" dizia sempre Odorico Paraguaçu, o populista folclórico e esperto encarnado por Paulo Gracindo, personagem-título de "O Bem Amado", novela e seriado da Globo nos anos 70 e 80. No debate de domingo passado, na Bandeirantes, Ciro Gomes lembrava a criatura de Dias Gomes. "A reforma da Previdência custaria mais ou menos uns 8% do PIB, desde que você pegue o passivo oculto e faça uma contabilização escritural. São palavras técnicas, enfim, mas o que é importante é compreender o sistema".
Os populistas folclóricos são hoje quase apenas folclore, e Ciro não é um deles. É uma versão modernizada da política em que "palavras, nada mais do que palavras", quaisquer que sejam, procuram um grupo de interessados no poder, qualquer grupo, a fim de ganhar a eleição, sem que seus propósitos sejam claros. Ciro era um discurso e uma imagem vagando solta à procura de uma coalizão política forte. Encontrou-a.
Sua candidatura é dita de oposição. Oposição ao quê? As candidaturas de José Serra e de Ciro são rearranjos do centrão que governa o país desde 1985. Estavam juntos em 1985, com o visgo de Tancredo Neves. FHC voltou a grudá-los em 1993. Ciro e Serra são sublegendas do centrão. Serra está mais à esquerda. Ciro reedita Collor: uma candidatura a princípio e aparentemente "outsider" que reúne gente reacionária (o PFL de ACM e Sarney), a escória política (o resto do collorismo apinhado no PTB), pelegos e um carcomido sem futuro, Leonel Brizola. A diferença é que Ciro é uma versão revista e melhorada de Collor e reuniu essa entente conservadora e suspeita antes de chegar ao poder.
Serra é, sim, o candidato dos banqueiros, do mercado e de uma parte dos industriais. Ciro está com a gente que sempre deu esteio ao mercado e, em breve, fará um acordo com essa turma que, com desprezo, diz apoiar seu inimigo de morte, Serra.
Um governo Ciro parece imprevisível. Sua candidatura muda a cada apoio que recebe. Suas palavras, por ora, são palavras, nada mais que isso.



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