São Paulo, segunda-feira, 12 de agosto de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

O tédio da sucessão

RIO DE JANEIRO - Alguma coisa não está colando na corrida presidencial, que ainda não entusiasmou o eleitorado. Não chegamos à reta final, mas os dados foram lançados, certamente teremos fatos novos que poderão mudar ou não o cenário eleitoral, mas nenhuma das candidaturas motivou grandes mobilizações populares.
O que cada um de nós percebe, nos contatos com família, colegas de trabalho, amigos e até conhecidos eventuais, é que não há uma convicção formada a respeito dos candidatos. As pesquisas feitas quase diariamente revelam exatamente que os candidatos patinam nos mesmos patamares, Ciro subindo, Serra descendo, Lula e Garotinho mais ou menos estabilizados na liderança e no último lugar da competição, sendo que Garotinho arranjou agora um sócio para segurar a lanterna.
Não há paixão por nenhum dos candidatos, nem mesmo por Lula, que tanto motivou o eleitorado em eleições passadas. Mudou o candidato ou mudou o eleitor? Parece que mudaram os dois. Não sei se para melhor ou para pior.
Ciro cresceu, mas ainda não tem aquele clima despertado por alguns candidatos no passado, como Lula, Collor, Brizola, o próprio FHC. Tem contra ele um temperamento à Sinatra que certamente o prejudicará. E junta no mesmo saco tantos gatos contrários que será difícil administrar apoios contraditórios.
Serra foi o que mais lutou para ser candidato, teve muitas oportunidades. Enquanto Ciro Gomes quebra câmaras e gravadores, como Sinatra, Serra parece uma sereia, a metade de cima na oposição, a outra metade -justamente o rabo- no governo.
Garotinho faz eficiente laboratório para ser prefeito do Rio em 2004 e volta à disputa presidencial em 2006 com cacife mais consistente, pois é agora uma figura nacional, condição que conquistou como candidato presidencial e não como governador do Rio, muito menos como prefeito de Campos.
O abacaxi da sucessão é tal e tamanho que ninguém acredita em ninguém.



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