São Paulo, sexta-feira, 12 de agosto de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DEPOIS DO DISCOVERY

Como previsto , o Discovery fez um pouso seguro na Califórnia. Essa foi a 114ª missão com um ônibus espacial, a primeira desde o acidente com o Columbia, que, em 2003, se desintegrou quando reentrava na atmosfera terrestre, matando os sete tripulantes a bordo.
Apesar do sucesso, o último vôo não transcorreu sem apreensões. Na decolagem, ao menos quatro pedaços da espuma utilizada como isolamento térmico do tanque de combustível se soltaram e poderiam ter atingido a nave. O impacto não aconteceu, mas houve risco de repetir-se o problema que causou o desastre com o Columbia. O Discovery foi esquadrinhado por câmaras em terra, no ar e no espaço, e astronautas foram capazes até de fazer alguns reparos.
Escolada pela tragédia com a Columbia, a Nasa tornou ainda mais rígidos os seus já severos critérios de segurança. Essa foi a missão mais cuidadosamente monitorada da história espacial -o que ajudou a transmitir para o público a falsa sensação de que o último vôo esteve sob ameaça. Na verdade, os problemas constatados no espaço ocorriam também nas viagens anteriores, mas só eram percebidos quando as naves eram inspecionadas em terra após a volta.
As próximas missões estão suspensas até que os engenheiros resolvam definitivamente o problema da espuma -se é que isso será possível; para muitos, a dificuldade é inerente ao desenho dos ônibus espaciais.
Assim, o vôo do Discovery, apesar de seu sucesso, apenas reforçou a necessidade de aposentar a frota de ônibus espaciais e substituí-los pelos CEV, ainda em fase de projeto. Os CEV, concebidos para levar o homem de novo à Lua, abandonam o conceito de veículos plenamente reutilizáveis e retornam a algo mais próximo do modelo da Apollo, lançada por foguetes convencionais.
O grande dilema da Nasa é que os CEV ainda estão na prancheta e os vôos espaciais precisam continuar, sob pena de comprometer a construção da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla inglesa). Apenas os ônibus são capazes de levar até a estação seus diversos módulos, que vão sendo construídos pelos países participantes do programa.
Jubilar precocemente os ônibus implicaria paralisar a ISS por uma década e ainda ficar com a responsabilidade de comprometer a primeira grande iniciativa internacional no espaço -um preço que nem a Nasa nem os EUA estão dispostos a pagar. Como se calcula que sejam necessários de 15 a 20 novos vôos até que a ISS fique pronta, tudo indica que as missões continuarão.


Texto Anterior: Editoriais: A DERROCADA
Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: A lama sobe a rampa
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.