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NELSON MOTTA
Diálogos republicanos
RIO DE JANEIRO - Enquanto foi ministro, José Dirceu recebeu Delúbio
Soares 14 vezes em seu gabinete, oficialmente, em audiências que duraram entre 30 e 90 minutos. Como
Dirceu jura que se afastou do comando do PT quando assumiu a Casa Civil e como Delúbio não integrava o
governo, a pergunta que não quer calar é: sobre o que tanto conversavam
Dirceu e Delúbio no Planalto?
Algumas hipóteses:
Delúbio - Tenho um esquema infalível, absolutamente seguro, para resolver as nossas dívidas da campanha. Mas nem vou te contar nada,
para não estragar a surpresa.
Dirceu - Vamos comprar o PL, o PP
e o PTB e garantir nossa maioria
parlamentar. Você sabe, a única
maioria confiável é a comprada; eles
pensam que são aliados, mas são
nossos empregados. Assim não precisamos nos misturar com essa gentalha do Jefferson e do Valdemar. Somos revolucionários puros, a causa é
nobre e a história nos fará justiça.
Delúbio - Vamos expropriar o dinheiro que a burguesia rouba do povo, comprar esses 300 picaretas e fazer a revolução do proletariado!
Dirceu - O que fazer já sabemos,
companheiro, mas como fazer?
Delúbio - "Xacomigo, chefe. Conheci em Belo Horizonte um grande
companheiro, que tem idéias geniais
e ótimos contatos. Você vai adorar o
Marcos Valério. É a sua cara.
O diálogo é absurdo, claro, porque
todo mundo sabe que nunca, nem no
gabinete nem fora dele, nem por telefone ou por e-mail, Dirceu e Delúbio
discutiram dívidas de campanha do
PT, muito menos compraram partidos e deputados bandoleiros para
compor maioria parlamentar. E, claro, embora Delúbio fosse o tesoureiro
do PT, jamais falaram em dinheiro.
Só em honra e dignidade.
Dirceu tem certeza de que somos
todos idiotas. Mas o mais humilhante é ter de acreditar em Jefferson.
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