São Paulo, sexta-feira, 12 de agosto de 2005

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NELSON MOTTA

Diálogos republicanos

RIO DE JANEIRO - Enquanto foi ministro, José Dirceu recebeu Delúbio Soares 14 vezes em seu gabinete, oficialmente, em audiências que duraram entre 30 e 90 minutos. Como Dirceu jura que se afastou do comando do PT quando assumiu a Casa Civil e como Delúbio não integrava o governo, a pergunta que não quer calar é: sobre o que tanto conversavam Dirceu e Delúbio no Planalto?
Algumas hipóteses:
Delúbio - Tenho um esquema infalível, absolutamente seguro, para resolver as nossas dívidas da campanha. Mas nem vou te contar nada, para não estragar a surpresa.
Dirceu - Vamos comprar o PL, o PP e o PTB e garantir nossa maioria parlamentar. Você sabe, a única maioria confiável é a comprada; eles pensam que são aliados, mas são nossos empregados. Assim não precisamos nos misturar com essa gentalha do Jefferson e do Valdemar. Somos revolucionários puros, a causa é nobre e a história nos fará justiça.
Delúbio - Vamos expropriar o dinheiro que a burguesia rouba do povo, comprar esses 300 picaretas e fazer a revolução do proletariado!
Dirceu - O que fazer já sabemos, companheiro, mas como fazer?
Delúbio - "Xacomigo, chefe. Conheci em Belo Horizonte um grande companheiro, que tem idéias geniais e ótimos contatos. Você vai adorar o Marcos Valério. É a sua cara.
O diálogo é absurdo, claro, porque todo mundo sabe que nunca, nem no gabinete nem fora dele, nem por telefone ou por e-mail, Dirceu e Delúbio discutiram dívidas de campanha do PT, muito menos compraram partidos e deputados bandoleiros para compor maioria parlamentar. E, claro, embora Delúbio fosse o tesoureiro do PT, jamais falaram em dinheiro. Só em honra e dignidade.
Dirceu tem certeza de que somos todos idiotas. Mas o mais humilhante é ter de acreditar em Jefferson.


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