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Acesso desigual
Aumento da presença de alunos de escolas públicas em universidades como a USP depende acima de tudo da melhoria do ensino médio
Caiu o número de estudantes
provenientes da escola pública
aprovados na Universidade de
São Paulo neste ano. Em 2009,
30% (3.157) dos alunos que ingressaram na USP provinham do ensino público; em 2010, eles representam 26% (2.717) das vagas. A
porcentagem é semelhante à de
2006 (25%), quando a universidade ainda não havia instituído o
sistema de bônus para estudantes
da rede pública no vestibular.
Os dados, à primeira vista, parecem mostrar a saturação dos efeitos do projeto de inclusão social
-o chamado Inclusp- adotado
pela instituição, que fixou, na gestão anterior, a meta de ter 30% dos
seus estudantes oriundos do ensino público e gratuito. Só em 2009
esse índice foi alcançado.
É preciso observar que o número de estudantes da rede pública
que se inscrevem no vestibular da
USP vem caindo significativamente. Eram quase 69 mil (45% dos
vestibulandos) em 2006; foram
pouco mais de 33 mil (29%) neste
ano. Presume-se que isso se deva,
entre outro fatores, à criação de
vagas em outras universidades
públicas (como a Unifesp e a
UFABC) e ao aumento da procura
pelo ProUni, que oferece bolsas
em faculdades privadas.
Quando se olha o perfil do aluno ingressante na USP desde
2001, verifica-se que a proporção
dos que vêm da escola pública
permanece mais ou menos congelada, em torno de 25%.
Ou seja, 75% dos estudantes
que passaram na Fuvest ao longo
da década cursavam escolas particulares, embora 85% dos estudantes do ensino médio do país pertençam ao sistema público, fenômeno que se repete em São Paulo.
São dados eloquentes, que obrigam a pensar no problema estrutural da educação brasileira, do
qual a reduzida participação dos
alunos das escolas públicas numa
universidade como a USP é apenas o ponto de chegada -ou a
ponta do iceberg.
Hoje, em torno de 80 instituições de ensino superior promovem as chamadas políticas de inclusão e são adeptas de "ações
afirmativas", entre as quais se incluem as cotas.
É desejável que cada universidade preserve sua autonomia para deliberar a respeito desses programas, sem que uma lei geral engesse instituições com perfis e vocações muito distintos. O mais importante, porém, é ter em mente
que o papel de uma universidade
como a USP não é rebaixar exigências para facilitar o acesso. A ênfase na questão da inclusão social é
elogiável, mas não pode recair no
lugar errado.
Como observou a pró-reitora de
graduação da universidade, Telma Zorn, não se trata de "elitismo", mas de manter a qualidade.
E é isso o que está faltando, há
anos, no ensino público de nível
médio. É aí que reside o problema.
É preciso reduzir as desigualdades
antes dos processos seletivos.
A USP é a principal universidade brasileira. É a que tem o maior
índice de produtividade científica
do país em todos os rankings internacionais. Não faz sentido
comprometer esse patrimônio
com políticas compensatórias que
avancem para o terreno do populismo. A meta de ampliar a presença de estudantes de escolas públicas na universidade só será de fato
satisfeita quando o país resolver
os gargalos da universalização e
da qualidade do ensino médio.
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