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ANTONIO DELFIM NETTO
Volta a Keynes?
O BANCO PARA Pagamentos
Internacionais (Bank for
International Settlements,
BIS) foi criado em 1930 para ajudar
a resolver alguns problemas relativos ao controle do pagamento das
reparações alemãs da Primeira
Guerra Mundial. Trata-se de um
banco:
1º) cujos depositantes são quase
exclusivamente Bancos Centrais.
Por isso é freqüentemente chamado de "banco dos bancos";
2º) e tem por objetivo promover
a cooperação entre os Bancos Centrais e estabelecer regulação universal que aumente a segurança e
diminua o risco operacional (a última é o Acordo de Basiléia 2, em via
de aplicação no mundo).
O BIS é, ao mesmo tempo, uma
sociedade privada cujos acionistas
são hoje 55 Bancos Centrais e uma
organização internacional. Os signatários originais (Alemanha, Bélgica, França, Itália e Reino Unido)
pertencem, "ex-officio", à diretoria, que hoje incorpora 14 diretores
eleitos.
A qualidade das análises técnicas
dos economistas do BIS é excepcional e compete (na minha opinião, com vantagem) com as realizadas por quaisquer outras organizações internacionais (Bird, FMI,
OMC e Unctad). São aparentemente menos sofisticadas, mas mais seguras, cuidadosas, rigorosas, realistas e, principalmente, mais humildes em suas conclusões. O relatório
anual da instituição, o 77º, que cobre o período 1º/4/2006 a 31/3/
2007, publicado no final de junho,
é um exemplo do que dissemos acima. Encerra-se com um capítulo
(pág. 139) que deveria ser leitura
obrigatória nas aulas inaugurais
dos cursos de economia e de todo
cidadão que se intimida diante do
aparente rigor técnico (em letras
gregas) cometido por alguns ingênuos (ou muito espertos?) analistas que se crêem portadores da
"ciência econômica".
Aqui vai, para servir de aperitivo
e provocação, a tradução livre de
algumas linhas: "A economia não é
uma ciência, pelo menos não no
sentido que a mesma experiência,
repetida, produz sempre o mesmo
resultado"... "as previsões econômicas são às vezes equivocadas,
particularmente quando o ciclo está mudando, quando as informações são insuficientes, quando os
modelos são deficientes e quando
os choques aleatórios conspiram
para gerar resultados insatisfatórios"... "Mais ardilosa ainda é a
idéia de calcular probabilidades
que encerram os riscos das previsões. De fato, isso é tão difícil que
não é exagero dizer que vivemos
num mundo fundamentalmente
incerto -um mundo no qual as
probabilidades não podem ser calculadas- e não num mundo apenas com riscos". E completa: "A
história econômica é um bom guia
a esse respeito".
Ah, o velho Keynes.
contatodelfimnetto uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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