São Paulo, sexta-feira, 12 de setembro de 2008

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CLÓVIS ROSSI

Interlocutores, buscam-se

SÃO PAULO - A situação na Bolívia complicou-se a ponto de deixar em suspenso uma missão -de resto, necessária e bem-vinda- de altos funcionários dos chamados países amigos da Bolívia (Brasil, Argentina e Colômbia).
A previsão original era embarcar ontem, até porque a avaliação que o grupo tem, vinda de La Paz, é terrível. Do lado oposicionista, o noticiário dá conta perfeitamente de tudo o que está sendo feito e dito -e radicalização seria uma palavra suave para descrever atos e ditos.
Do lado do governo, o presidente Evo Moraes acha que o espaço para negociação está fechado, vai manter as Forças Armadas na vigilância de dependências oficiais (para evitar novos ataques) e, pior, quer lançar as organizações sociais na defesa do seu sitiado governo. Pior no sentido de que equivale a semear minas humanas no caminho da crise. Tanto é assim que os quatro mortos de ontem, no Departamento de Pando, na fronteira com o Brasil, o foram em um confronto entre grupos opositores e camponeses pró-governo (dois de cada lado).
A impressão predominante nas chancelarias dos países vizinhos é a de que o Exército boliviano não quer um cadáver, mas a oposição "só quer" (é bom deixar claro que os quatro de Pando não são de responsabilidade das Forças Armadas).
Se essa avaliação estiver correta (e não há como confirmá-la diretamente), significa que as Forças Armadas tentarão usar mão leve na repressão, o que tende a atiçar ainda mais a fúria oposicionista, seja em busca de um cadáver, seja em busca do nocaute do presidente.
A única alternativa à vista é o diálogo, para o que a missão Argentina/Brasil/Colômbia é essencial. O problema é que ela foi adiada, entre outros motivos, porque não foi possível armar, antes, conversas com as duas partes. O que confirma o quanto a crise é dramática.

crossi@uol.com.br


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