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JOSÉ SARNEY
Chimpanzés e o bóson
O SUPERIOR Tribunal de Justiça julga um habeas corpus
a que pediu vistas o ministro Herman Benjamin, a maior autoridade brasileira em direito ambiental, para conceder liberdade a
Lili e Megh, dois chimpanzés que
viajaram clandestinos do zoológico
de Fortaleza para São Paulo, sem
licença do Ibama. A discussão é se o
direito de ir e vir deve ser só de humanos ou se se estende a animais.
Os impetrantes argumentam com
o "direito à vida" -e os bichos vivem. Há jurisprudência: o ministro
Magri, nos anos 90, disse que "cachorro também é gente". Enfim, o
abacaxi está nas boas mãos do ministro Herman.
E nosso homem-macaco quer,
com a ciência, descobrir a partícula
fundamental do universo. Confesso que sempre tive uma fascinação
pela física pura. Essa paixão me fez,
como presidente, visitar o Fermilab, em Chicago, que tem 6,3 quilômetros de extensão, o maior acelerador de partículas existente àquele tempo no mundo. Fui recebido
pelo professor Leon Lederman,
Prêmio Nobel pela descoberta dos
neutrinos, essas partículas desprovidas de massa, liberadas pela combustão nuclear do Sol, que atravessam tudo, nosso corpo, terra e aço, sem respeitar nada, e não deixam
rastro.
O Large Hadron Colider (LHC),
agora inaugurado na Suíça, com 27
quilômetros, desbanca o Fermilab
e passa a ser a tecnologia de ponta
na busca da matéria primordial
que formou o universo. Tudo consiste em fazer girar minúsculas
partículas à velocidade da luz na
esperança de, ao se chocarem, despedaçadas, poder o homem encontrar a menor de todas, o chamado
bóson de Higgs.
Fui ao Fermilab em companhia
do eminente cientista brasileiro
professor Santoro, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, que,
vendo minha curiosidade sobre
partículas, me convencera a visitar
a equipe brasileira que trabalhava
em Chicago (agora ele está no projeto do Cern, na Suíça).
Os cientistas do Fermilab ficaram muito admirados que um presidente brasileiro ali fosse. O professor Lederman recebeu-me e me
mostrou aquela gigantesca máquina. Com extraordinário poder de
síntese, explicou-me: "Presidente,
nós, cientistas, somos crianças. Tudo isso que aqui está é uma caixa de
brinquedo que nós quebramos para ver o que tem dentro. Depois
quebramos outra e mais outra, em
busca de saber o que está na
última caixa, que nós ainda não
encontramos".
Na Europa, os humoristas brincam que o LHC pode provocar um
buraco negro que destruirá a Terra. Outros dizem que a máquina
não é tão potente, pode, no máximo, destruir a Suíça. E se isso acontecer? Eles respondem: vamos ter
que levar o dinheiro para Jersey.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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