São Paulo, sexta-feira, 12 de outubro de 2001 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A relevância da educação infantil
JORGE WERTHEIN
Dados esses resultados, calcula-se que o programa tenha economizado US$ 7,16 para cada US$ 1 investido, devido às reduções nos gastos de educação primária e previdência social combinadas com o aumento de produtividade ao longo do tempo. A educação infantil vem crescendo no mundo inteiro. Cada vez mais ela se afirma como o nível inicial do processo educacional. Ou seja, a educação começa ou deve começar por ela. É o que sustenta a Declaração Mundial de Educação para Todos (1990), que afirma que a aprendizagem se inicia com o nascimento. Dez anos mais tarde, no Fórum Mundial de Educação realizado em Dacar, no Senegal, a Unesco insistiu na prioridade para a educação infantil, sendo que a primeira das seis metas traçadas no Marco de Ação de Dacar foi sobre "a expansão e o aprimoramento da assistência e da educação na primeira infância, especialmente para as crianças mais vulneráveis e desfavorecidas". Um relatório recente do Banco Mundial sobre o impacto da educação pré-escolar no Brasil demonstrou que cada ano de frequência na pré-escola aumenta em 0,4 anos a escolaridade finalmente atingida, diminui de 3% a 5% o nível de repetência e equivale a um aumento de renda, no futuro, da ordem de 6% (estudo realizado pelo Ipea). Esse documento também informa que são as crianças pobres as que mais se beneficiam desse atendimento. Dessa forma, a educação infantil -um direito constitucional das crianças brasileiras desde o nascimento- também constitui-se em uma estratégia eficiente no combate à transmissão intergeracional da pobreza. Em junho deste ano, a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) lançou um estudo comparativo sobre as políticas de educação e de cuidados na infância, realizado em 12 países desenvolvidos. Esse estudo, intitulado "Starting Strong", trouxe quatro questões básicas: a clara responsabilidade do Estado na provisão de cuidados e de educação na primeira infância; a importância da qualidade e da integração dos serviços; a necessidade de profissionalizar e de capacitar os recursos humanos que atuam na área; e a necessidade de trabalharmos com indicadores que possibilitem a avaliação dos serviços e a realização de estudos internacionais. É fundamental que as políticas públicas possam gradativamente considerar essas novas informações e evidências científicas, de modo que a educação e o desenvolvimento integral na primeira infância tornem-se uma realidade para todas as crianças brasileiras, assegurando-lhes um começo justo. Como nos disse o poeta Mário Quintana: "Democracia? É dar a todos o mesmo ponto de partida..." Jorge Werthein, 60, sociólogo argentino, doutor em educação pela Universidade Stanford (EUA), é representante da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) no Brasil. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Frei Betto: Arte de ser criança Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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