São Paulo, sábado, 12 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

A nova geração

Repercute ainda em milhões de jovens a Festa da Paz, realizada na cidade de Turim, na Itália, em 5/10. Espetáculo de rara beleza, foi o encontro de mais de 30 mil rapazes e moças de várias nações, irmanados pelo anseio comum da paz. Tudo era motivado pela vontade de construir um mundo na verdadeira paz. Durante o dia, foi distribuída como única comida uma pequena porção de arroz frio para entrar em união com os países pobres que não dispõem de suficiente alimento, água e energia. Impressionava contemplar essa juventude, que refletia sobre a situação mundial, usava a palavra com discernimento e, em perfeita harmonia, cantava alegre e feliz, projetando um futuro diferente, sem injustiça nem violência. Nas grandes telas, projetaram-se dezenas de cenas deste mundo que não se podem aceitar e de um sistema de vida desumano, que precisa ser mudado. Não é aceitável, com efeito, que a "Justiça seja dura com os fracos e omissa com os fortes". Nem é admissível que a economia e a tecnologia tornem os ricos mais ricos e os pobres mais pobres, privando bilhões de pessoas do uso da terra e da água e da possibilidade de trabalho.
Com a intenção de assumir com responsabilidade os deveres diante da dignidade da pessoa humana, os jovens elaboraram uma ampla proposta, que contém pontos básicos para a cultura da paz -que torne a terra acolhedora para todos. O texto abre um apelo à juventude do mundo inteiro: "Que os jovens de todas as culturas e crenças se unam e percorram com paixão o caminho que conduz ao bem de cada pessoa, que saibam pedir perdão e corrigir-se sempre que a busca de riqueza, poder e comodismo ofuscar o amor ao próximo". Não é possível ficar indiferente diante da fome que mata. Será preciso, portanto, que se preparem para assumir as responsabilidades políticas e administrativas -em espírito de serviço e dando prioridade à promoção dos mais pobres.
Os jovens dirigiram-se aos que hoje exercem a autoridade governamental. Estavam presentes na praça central de Turim centenas de políticos, estadistas e membros das Câmaras Municipais. As expectativas recolhidas durante meses entre os grupos de jovens foram entregues por escrito às autoridades. Insistiam em opor-se às guerras e ao terrorismo, propondo a educação para a paz na busca contínua de alternativas não-violentas para os conflitos. "Acolha-se todo estrangeiro com igualdade de direitos e deveres. Assegurem-se a todos as condições dignas de vida, a começar pela oportunidade de trabalho. Os meios de comunicação se comprometam em promover a esperança de convivência pacífica entre os povos."
No atual contexto mundial, é urgente o entendimento fraterno entre os israelitas e cristãos, conforme a palavra do Papa João Paulo 2º: "Nem atentados, nem muros, nem represálias poderão conduzir a uma solução equitativa do conflito"(11/8/2002). Requer-se da nova geração um amor autêntico para edificar entre os homens a "cidade de Deus", promovendo a justiça e a solidariedade ("Aos jovens", em Toronto, 27/7/02). Quando alguém morre de fome, de violência ou de abandono, é porque falta o amor de Deus no coração humano.
O período das eleições no Brasil desperta ainda mais em nosso povo a esperança de uma sociedade justa em que todos tenham acesso a condições dignas de vida. No dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, confiamos a ela a nossa pátria, procurando, também nós, acolher a mensagem dos jovens em Turim para que haja justiça e paz social. No Brasil, é preciso, à luz do Evangelho, não ter medo de amar e de aprender, como irmãos, a partilhar os bens.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.



Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: "Muda, Brasil"
Próximo Texto: Frases

Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.