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Escolas técnicas: Lula ou FHC?
RAUL DO VALLE
No plano das idéias, um argumento é apresentado e refutado. Mas, no mundo dos números, não cabe polemização, senão correção
A FOLHA DE S.PAULO publicou
recentemente nesta seção dois
artigos sobre a educação profissional: "Lula e as escolas técnicas",
do ex-ministro Paulo Renato Souza
(dia 15/9), e "FHC e as escolas técnicas" (dia 20/9), de um triunvirato de
dirigentes de escolas técnicas federais. Como ex-diretor do Proep (Programa de Expansão da Educação Profissional) na gestão de Paulo Renato
no MEC, comento o último artigo,
uma vez que o programa que dirigi foi
erroneamente citado.
As idéias e as crenças obedecem a
critérios ideológicos. Cada um acredita naquilo que lhe parece correto. No
plano das idéias, os argumentos são
apresentados e refutados. Mas, quando vamos para o mundo objetivo dos
números, não cabe polemização, senão correção.
Vamos ao artigo da tróica. Ele critica a gestão de Paulo Renato por ter
determinado que a criação de novas
unidades de educação profissional
por parte da União somente pudesse
ocorrer em parceria com Estados,
municípios e ONGs.
Na visão dos autores do artigo, a expansão deveria, necessariamente,
ocorrer com a criação de novas escolas técnicas federais, com mais ônus
para o país, não só pela construção de
novas escolas mas também pela contratação de novos professores e pelo
pagamento de uma pesada mensalidade de custeio, pendurada no Orçamento da nação.
Estou seguro de que uma parcela
importante da sociedade pensa diferente e prefere que o dinheiro economizado com a parceria de Estados,
municípios e ONGs seja aplicado em
outras áreas mais carentes, como a
educação fundamental e a saúde.
Outra crítica se centra na separação
do ensino médio da educação profissional. Os dirigentes autárquicos preferem que o ensino médio seja compartilhado com a educação profissional, retardando o acesso dos alunos ao
mercado de trabalho ou proporcionando, a um alto custo, uma educação
rebarbativa a uma elite de alunos que
tem as suas miras fixadas no horizonte da universidade.
Vamos aos números. Afirma o trio:
"O governo anterior lançou o Proep,
mas até nisso ele perde na comparação com o governo atual". Primeira
correção: o Proep, programa de US$
500 milhões (US$ 250 milhões do
BID e US$ 250 milhões de contrapartida nacional), criado na gestão FHC,
não era destinado apenas à assinatura
de convênios com Estados e com o setor comunitário. A própria rede federal, no período FHC, recebeu investimentos em 65 de suas unidades da ordem de R$ 142 milhões.
Segunda correção: a gestão FHC,
em números comparativos não perde
de jeito nenhum para o atual governo.
Os autores do artigo citam a contratação de professores e funcionários
para justificar sua afirmação de que
Lula deu mais atenção ao ensino técnico do que FHC. A sociedade não
quer saber do número de funcionários contratados, mas, isto sim, dos
resultados obtidos em termos de alunos educados pelas escolas técnicas
federais. Infelizmente, os autores
omitiram esses dados.
O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão
do Ministério da Educação, divulgou
recentemente os dados do Censo Escolar de 2005. Os dados são recolhidos no mês de março de cada ano e refletem os resultados do ano anterior.
Assim, os números de 2003 refletem
as políticas adotadas até 2002 (último
ano de FHC), e os de 2004 e 2005, as
medidas adotadas nos dois primeiros
anos do governo do PT.
Por outro lado, a metodologia do
censo em relação ao ensino técnico
mudou a partir de 2001, pois, até o
ano anterior, as matrículas estavam
agregadas às do ensino "médio profissionalizante". Em termos das escolas
técnicas federais, só é possível, portanto, comparar os dois últimos anos
do governo FHC com os dois primeiros do governo Lula.
Em 2001, havia 56 mil alunos nas
escolas técnicas federais, cifra que aumentou para 79 mil em 2003 e para
83 mil em 2005. Ou seja, enquanto a
matrícula se expandiu 41% nos dois
últimos anos do governo FHC, nos
dois primeiros anos do governo Lula,
o crescimento foi só de 5%.
Para finalizar, quero enfatizar que
todos os convênios aprovados pelo
Proep no governo FHC estavam amplamente amparados em critérios
técnicos insofismáveis, razão pela
qual eles não foram objetados pelo órgão financiador, o BID. A decisão de
cancelá-los e devolver cerca de US$
100 milhões ao banco é de exclusiva
responsabilidade do atual governo. E
só a ele cabe explicá-la.
RAUL DAVID DO VALLE JUNIOR é diretor de Projetos e
Intervenções Urbanas da Emurb (Empresa Municipal de
Urbanização). Foi diretor do Proep (Programa de Expansão da Educação Profissional) e secretário de Educação
Média e Tecnológica do Ministério da Educação (gestão
Fernando Henrique Cardoso).
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