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Cai Renan Calheiros
Senador sai de um cargo que já não tinha como exercer; episódio deixa rastro de desmoralização na política brasileira
ENFIM. Um Renan Calheiros abatido anunciou, na
noite de ontem, a decisão
de licenciar-se da presidência do Senado. Não era outra
a expectativa da opinião pública
-e, nos últimos tempos, a dos
próprios senadores da base governista-, depois de assistir a
tão longo processo de desgaste.
Teria sido mais simples, pode-se pensar agora, se Renan Calheiros tivesse resolvido afastar-se do cargo tão logo surgiram as
primeiras denúncias a seu respeito. Apostou, entretanto, na
conivência de seus pares, na própria capacidade de intimidar os
adversários mais renitentes, e
nas condições de manipulação
que o cargo lhe oferecia.
Deve-se notar que a aposta, a
princípio, não teria como lhe parecer equivocada. Foi a maioria
dos senadores, em votação secreta, quem lhe deu respaldo para
continuar no poder. A indignação da sociedade diante daquele
veredicto não teve nenhum impacto sobre seu comportamento.
Num efeito paradoxal, a confiança de Renan Calheiros nos
próprios métodos crescia na medida mesma em que se acumulavam novas denúncias contra seu
nome. Enquanto alguns de seus
aliados do Partido dos Trabalhadores tentavam pateticamente
salvar a própria imagem do estrago causado pela farsa da absolvição sigilosa, o presidente do
Senado retirou daquele episódio
mais forças -e mais certeza de
impunidade- para enfrentar as
sucessivas revelações a seu respeito. A impunidade não era,
contudo, sinônimo de poder.
De certo ponto de vista, em todo o caso Renan Calheiros deu-se como que o enfrentamento
entre dois modos de se encarar a
política. Ou se trata de um jogo
corporativo, em que lobistas, laranjas, parentes e correligionários se articulam para manter-se
no usufruto do poder, ou se trata
de uma atividade de representação pública dos diferentes interesses da sociedade, na qual todo
parlamentar ou governante está
forçado, permanentemente, a
prestar contas de seus atos.
A última denúncia envolvendo
o senador Renan Calheiros -a
de que teria articulado um virtual mecanismo de espionagem
contra dois de seus adversários
no Congresso Nacional- parece
simbolizar, tanto quanto a sessão secreta de que saiu absolvido,
o predomínio daquela concepção sombria, anti-republicana e
arcaica de se fazer política.
Seria injustificável otimismo
considerar, porém, que o afastamento de Renan Calheiros represente uma conquista no que
tange à modernidade e à transparência institucional no país.
Ao contrário, se alguma lição resulta do caso, foi a da extrema resistência da maioria do Senado
diante das pressões da opinião
pública. Para que Renan caísse,
foi necessário que sua presença
passasse a ser vista, por alguns
senadores, como fonte de ameaça e de chantagem; e, pelo Planalto, como fonte de distúrbios
na aprovação da CPMF.
Renan Calheiros afasta-se de
um cargo que já não tinha como
exercer; o rastro de desmoralização que todo o episódio deixa na
política brasileira, entretanto,
não desaparece com ele.
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