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Gargalos judiciais
Embora meta de julgar processos protocolados até 2005 pareça distante, iniciativa já melhorou condutas no Judiciário
O INÍCIO da modernização administrativa por
que passa o Poder Judiciário brasileiro repete roteiro característico desse
tipo de processo. A entrada de
ferramentas novas de gestão, como a fixação de metas e de avaliações estatísticas de eficiência,
sempre desperta resistências
corporativas e expõe gargalos
desconhecidos no próprio órgão.
O 2º Encontro Nacional do Judiciário, que reuniu ministros,
desembargadores e juízes em
Belo Horizonte, em fevereiro
deste ano, foi um dos marcos da
mudança. Lançou-se ali, entre
outras diretrizes, a chamada Meta 2, segundo a qual todas as
ações distribuídas até o final de
2005 deveriam ser julgadas até
dezembro deste ano.
De acordo com o Conselho Nacional de Justiça, que coordena a
iniciativa, estão englobados na
Meta 2 cerca de 5,1 milhões de
processos. Atingir o objetivo, como mostra a Folha na edição de
hoje, será impossível. Até a semana passada, era de 31% a média nacional de cumprimento da
meta -consideradas as Justiças
do Trabalho, Federal, Militar e
Eleitoral, bem como os tribunais
superiores.
Tal índice de evolução no julgamento dos processos antigos,
faltando menos de três meses
para terminar o ano, é sem dúvida acanhado. Daí não se conclui,
entretanto, que a iniciativa de fixar metas de desempenho tenha
fracassado.
A mobilização que o programa
desencadeou, em escala nacional, ampliou o nível de conhecimento de dados e problemas básicos do Judiciário. Não havia
ideia, por exemplo, nem mesmo
do número de processos por julgar. Começou-se com uma estimativa de 40 milhões, que depois baixou para 23 milhões e
chegou aos 5,1 milhões.
Sabe-se agora, além disso, de
carências técnicas importantes.
Uma grande quantidade de
ações que exigem perícia, caso
dos processos de investigação de
paternidade, está parada porque
seus autores não têm condições
financeiras de bancar os exames.
Será preciso ampliar o atendimento gratuito dessa demanda.
Outros entraves são os inventários parados por descaso de inventariantes, as ações com grande número de autores e réus e a
falta de sistema informatizado
que integre varas e tribunais na
maioria das localidades. Merece
menção ainda a baixa qualificação de boa parte do corpo de funcionários da Justiça.
Alguns grupos de juízes resistem à modernização. Afirmam
que um magistrado, com total
independência para julgar, não
pode ficar sujeito a controles de
eficiência. A meta, contudo, não
estimula o juiz a decidir desta ou
daquela maneira -mas a decidir
em tempo hábil, sob o risco de
pôr-se a perder, devido à morosidade, a própria ideia de justiça.
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