São Paulo, quarta-feira, 12 de outubro de 2011

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ANTONIO DELFIM NETTO

Dobrar a aposta

É inegável que uma taxa de inflação (IPCA) de 0,53% em setembro (5% no ano e 7,3% em 12 meses) deixa o governo numa situação desconfortável.
Esperava-se que a taxa de 12 meses deveria dar os primeiros sinais de acomodação em setembro e iniciar uma convergência para tangenciar o limite superior do intervalo de tolerância (6,5%) em dezembro.
Como a média das taxas de inflação no último trimestre de 2010 foi muito alta (7,4%), talvez ainda haja uma chance de o Banco Central não ter de explicar-se, por escrito, ao ministro da Fazenda.
Outro problema -com resultado positivo sobre o crescimento, mas negativo em relação à inflação- foi a valorização externa do dólar, o que, com uma pressão marginal da redução da taxa Selic, desvalorizou o real em 15%.
Agora, com a intervenção do BC, o real está num processo de busca de equilíbrio entre 1,7 e 1,8 real/dólar. Isso afeta mais as "expectativas" da inflação do que os preços.
Isso porque, primeiro, cada 1% de desvalorização do dólar tende a reduzir em quase 3% a cotação das commodities. Segundo, porque a ligação entre a taxa de câmbio e o preço interno não é nem imediata nem diretamente proporcional. Terceiro, porque a soma das exportações com as importações em relação ao PIB não chega a 20%, o que dilui o seu efeito.
Tudo isso está a mostrar que o BC e o Ministério da Fazenda precisam ampliar os seus esforços para cooptar o sistema financeiro para o seu programa e convencê-lo de que a meta de inflação de 4,5% no final de 2012 não foi abandonada em nenhum momento.
Dentro das regras conhecidas da política de metas de inflação e tendo em vista o que ocorre no mundo e no Brasil, só se alongou o prazo da meta inflacionária e se deu maior peso ao nível da atividade.
Não devemos esquecer que as medidas prudenciais postas em prática desde janeiro ainda não mostraram todas as suas consequências. A taxa de crescimento do PIB (e, particularmente do setor industrial) está dando sinais preocupantes de rápido arrefecimento, e não é fora de propósito supor que em dezembro estejamos rodando a uma taxa de crescimento do PIB, na margem, da ordem de 2,5%.
Há muito trabalho pela frente para reancorar as expectativas inflacionárias em 4,5%. Se quisermos mesmo ter uma taxa real de juro entre 2% e 3% num prazo razoável, deveremos começar a preparar o terreno: não apenas manter sólida política fiscal e segura política monetária mas também pensar no inevitável processo de desindexação da economia e nas necessárias políticas microeconômicas para aumentar a produtividade dos setores público e privado.

ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna
contatodelfimnetto@terra.com.br



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