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CLÓVIS ROSSI
Dois governos, duas atitudes
SÃO PAULO - O presidente do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, está dando uma aula
de respeito ao público na preparação para participar da cúpula de
Washington, no sábado, a propósito
da crise financeira global.
Chamou para conversas tanto
empresários de grande peso (Emílio Botín, o patriarca do Santander,
entre eles) como os secretários-gerais das duas principais centrais
sindicais espanholas. Não faltaram
o presidente da Confederação Espanhola de Organizações Empresariais e o das pequenas e médias
empresas.
Posto de outra forma, não vai à
reunião armado apenas de propostas elaboradas nos escaninhos do
governo, ainda que sejam preparadas por burocratas da melhor qualidade. Zapatero até teria uma desculpa para não fazer consultas: sua
presença em Washington só foi
concedida na undécima hora, graças a uma gentileza do presidente
francês Nicolas Sarkozy, que cedeu
ao espanhol uma das duas cadeiras
da França (como presidente de turno da União Européia e como membro do G8).
Já o governo brasileiro, supostamente mais próximo das centrais
sindicais e das organizações sociais,
preparou nos gabinetes o pacote
que já apresentou ao G20 no fim de
semana em São Paulo -e que, como
é óbvio, não deve diferir muito do
que o presidente Lula levará a
Washington.
Dos demais governos tampouco
há notícias de que tenham feito
consultas. Parecem todos tratar as
respostas à crise como uma coisa de
especialistas, como se não afetasse
toda a sociedade -em especial o
emprego, tema em que antigamente as centrais sindicais teriam alguma coisa a dizer.
No Brasil, as centrais deixaram-se cair no colo do governo, que sabe
que não precisa ouvi-las para continuar recebendo apoio incondicional. Merecem o desprezo. Azar do
trabalhador.
crossi@uol.com.br
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