São Paulo, quinta-feira, 12 de dezembro de 2002

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O PRETEXTO QUE FALTA

Os EUA seguem em busca de um pretexto para atacar o Iraque. Como que a frustrar os planos do presidente George W. Bush, Bagdá parece estar de fato colaborando com os inspetores de armas da ONU e cumprindo o cronograma de exigências determinado pelo Conselho de Segurança (CS). Na semana passada, entregou à ONU quase 12 mil páginas que compõem uma declaração detalhada de seus programas de desenvolvimento de armas.
Segundo analistas, é no meio dessa papelada que os EUA esperam encontrar uma discrepância que possa ser utilizada como desculpa para a ação militar. A Casa Branca parece ansiosa para comparar a declaração iraquiana com as informações de inteligência de que dispõe e achar alguma inconsistência. Para fazê-lo, manobrou a ONU para mudar as regras e receber, junto com os outros quatro membros permanentes do CS, o relatório de armas em primeira mão.
Anteriormente, havia sido acertado que todos os países membros do CS receberiam uma versão censurada da declaração. Informações sensíveis sobre como construir armas seriam retiradas do documento. Os EUA alegaram que os cinco membros permanentes do CS já são potências nucleares, o que tornaria a "censura" ociosa. O frágil argumento não disfarça a pressa dos norte-americanos.
Permanece em aberto o que ocorrerá na hipótese de os EUA acharem provas de que os iraquianos não estão cumprindo a resolução da ONU. O texto aprovado pelo CS é ambíguo. Na leitura de França e Rússia, o CS precisaria voltar a se reunir para decidir o que fazer. Na interpretação da Casa Branca, a resolução já abriu o caminho para a intervenção militar.
Fica uma sensação de que os EUA farão o que bem entenderem, e de que as Nações Unidas acabarão por chancelar as opções do presidente George W. Bush.


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