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JOSÉ SARNEY
Um governador das Arábias
VISITEI Chicago quando presidente da República para
apoiar uma equipe de físicos
brasileiros que participavam da
busca do quark, a partícula fundamental do universo. Sempre tive
uma curiosidade grande pela física
pura, e o mundo das partículas me
fascina, nesse intrincado jogo que
não entendemos muito, dos elétrons, prótons, bósons e outros
mistérios mais. Em Chicago, no
Fermilab, desenvolveu-se a desintegração do átomo.
Os títulos de Chicago são muitos:
terra de Al Capone, o mais conhecido gângster americano, Máquina
de Chicago, para caracterizar a política mais corrupta dos Estados e
termo pejorativo para qualquer um
que fosse acusado de pertencer a
ela, e, nos últimos tempos, Escola
de Chicago, em que pontificava o
grande economista Friedman, oráculo de Reagan e pai do liberalismo
mais radical, ídolo dos neoliberais.
Illinois é um dos maiores e mais
ricos Estados dos EUA, e um dos
centros científicos e econômicos
do mundo. Chicago é sua maior cidade, e a capital, Springfield (onde
numa noite de 1964 comi um milho
na manteiga, numa feira rural), é
uma cidade pequena e bem típica
do interior americano. Terra de
Lincoln, que também foi senador
por Illinois, o grande estadista que
conduziu a Guerra da Secessão,
emancipou os escravos e morreu
assassinado num teatro de Washington. Dois senadores negros foram eleitos por Illinois: Obama e
Carol Moseley Braun.
Pois não é que volta a ser, também, o Estado mais corrupto dos
Estados Unidos, onde a política é
feita na base do crime e das barganhas. O governador atual Rod Blagojevich, já reeleito, numa campanha dura contra corrupção, sucedeu ao governador George Ryan,
que até hoje está preso por ter feito
das boas durante o seu mandato.
Pois o moralizador, considerado
pelos líderes de ambos os partidos
o pior de todos os que eles já viram,
agora foi agarrado negociando,
num leilão de cinco licitantes, nada
menos que o lugar do presidente
eleito, Barack Obama, que, pela lei
americana, lhe cabe indicar.
Essa história de indicar senador
sempre deu o que falar nos EUA.
Um governador do Alasca indicou
a filha, um da Louisiana, a mulher,
e, atualmente, o lugar do vice, Biden, está sendo preparado para o
seu filho.
O diabo é que isso é motivo de
constrangimento não só para os
políticos americanos mas para todos nós, que verificamos nesse
exemplo o quanto ainda a democracia e homem têm que caminhar
para o terreno dos bons costumes,
E o palavreado do governador
não é dos mais contidos: "Quero dinheiro e não vou dar esse lugar a
esse fdp (o presidente Barack Obama) de graça por nada. Ele que
sifu...". Aqui e lá, más falas há...
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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