São Paulo, sábado, 13 de janeiro de 2001

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Artífices da paz

A conclusão do Ano Jubilar ofereceu ao mundo um espetáculo de rara beleza. Na semana de Natal em Roma, a 22 de dezembro, dez mil jovens vindos de várias partes da Itália foram recebidos em audiência pelo Santo Padre celebrando o "Jubileu da Paz" com o lema: "Jovens para uma nova história".
A iniciativa partiu do "Servizio Missionário Giovanile", Sermig, fundado por Ernesto Olivero, com apoio do cardeal Miguel Pellegrino, em 1964, na cidade de Turim, procurando encontrar as raízes da justiça, da solidariedade e da paz num estilo de vida fraterna, à luz do Evangelho. Nestes mais de 35 anos, o Movimento multiplicou projetos e realizações em várias partes do mundo, especialmente no Brasil, lutando contra a miséria e buscando o diálogo e compreensão entre povos.
No centro da espiritualidade desses jovens encontramos a "regra de vida", que se propõe "amar com o coração de Cristo e fortalecidos pela oração, confiantes na Providência divina pagar o mal com o bem numa sociedade dilacerada pelos conflitos". Diante das guerras, Ernesto Olivero propõe à juventude a convicção de que "A bondade desarma".
Naquela manhã, na sala Paulo 6º, completamente repleta, os milhares de jovens, com vibrante entusiasmo, entre cantos e aclamações, com as bandeiras da paz, quiseram dar ao papa João Paulo a demonstração de estima e gratidão pelo seu testemunho exemplar em defesa da união entre os povos.
Rapazes e moças proclamaram com emoção diante do papa a "Carta dos Jovens", fruto da colaboração, durante três anos, de centenas de grupos da Itália, do Brasil e de vários continentes. O texto contém dez pontos básicos entre os quais sublinhamos. "Desejo encontrar o sentido para minha vida, num mundo sem guerra, sem violência e medo e esperar no futuro, empenhando-me para que cada homem e mulher possam valorizar as próprias potencialidades e nenhuma pessoa seja oprimida. Quero viver numa sociedade onde haja perdão e seja abolida toda vingança. Hei de esforçar-me a fim de que os recursos da terra sejam distribuídos de modo justo e solidário".
Ao ouvir a leitura de todos os compromissos, o Santo Padre incentivou os jovens a não desanimarem e a serem testemunhas da esperança evangélica no novo milênio, promovendo o diálogo e a união entre culturas e religiões, com gestos concretos de solidariedade. Lembrando a situação delicada do Oriente Médio, exortou-os a se consagrarem à causa da paz.
Contemplando a multidão de jovens, profundamente comovido e descortinando diante de si o futuro, o papa João Paulo 2º renovou seu apelo para que levem ao mundo a luz de Cristo e haja "a globalização do amor e da paz", em resposta ao predomínio dos mercados econômico-financeiros e transnacionais sobre os países pobres. Lembrou que para alcançar esta meta é preciso ser coerente com os princípios éticos e a mensagem do Evangelho e assumir a atitude do amor gratuito, ajudando sem buscar recompensa, os que passam por necessidades e nada têm.
Abençoando os jovens do Sermig e do mundo inteiro, invocou a proteção de Maria, Mãe da Esperança, exortando-os a cumprir a "carta dos jovens" e serem "artífices da paz".
Que essa mensagem penetre sempre mais em nossa juventude, especialmente neste ano, em que as comunidades se mobilizam na Campanha da Fraternidade "em favor da vida e contra as drogas".


D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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